Duas Coisas Muito Importantes

Na era da imagem. Sem imagens. Só palavras de duplo sentido. Que desenham qualquer coisa...

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Location: Lisboa, Olissipo, Portugal

Friday, November 30, 2007

Fadista mazé o…

tanas!!! Lembrei-me agora. Fadista mazé o tanas….«Fados», o filme. Das piores coisas que aconteceram ao fado nos últimos anos. Péssima homenagem. Paupérrima leitura. Incongruente a nível histórico. Mau gosto estético do ponto de vista da escolha coreográfica. Escolhas duvidosas e critérios com muitos subterfúgios. Uma ruinosa prestação geral.

Um espanhol a comandar. Sem problema. Basta relembrar o espectacular trabalho de Wim Wenders quando de «Lisbon Story», com os Madredeus. Salienta-se, portanto, que o preconceito xenófobo é não mais do que um passadismo. O espanhol foi facilitista. Achou que contactava dois ou três personagens cá do burgo e a coisa estava legitimada…

As escolhas do espanhol ficaram muito, mas muito, aquém. Uma coisa inconcebível. Cenários débeis. Mau gosto na forma como surge os bailarinos. E neste campo a culpa não morre solteira, dado que desde os próprios bailarinos ao chefe coreografo tudo não passa de um grande erro de casting. Excepção feita para o bailado que acompanha «Meu Fado Meu», com voz de Mariza e Miguel Poveda. Um bailado tenso. Com carisma. Com rasgo. Com intenção. Bem filmado. Boa sugestão no jogo de espelhos. Um bailado com vácuo interpretativo.

Do campo oposto, por exemplo, surge o bailado que contempla o tema «Foi na Travessa da Palha», tema interpretado por Lila Downs. Uma aberração. Maus acabamentos cénicos. Iluminação débil. Um bailado taxativo. Sem subtexto. Quase uma mímica para crianças. Mas no pior da Rua Sésamo…

As escolhas musicais, que estiveram sob a supervisão de Carlos do Carmo, não passam de um exercício “lobbyistico”…Claro que a classe do “charmoso” é inquestionável! Mas há por ali muita mensagem escondida…Amália surge nos ecrãs com uma hora de filme já passada…Numa lógica de minimização do papel da «diva»…E mais, surge numas condições…que enfim.

A Mariza é repetente ao passo que outras fadistas muito importantes ficam de fora. Cristina Branco é símbolo internacional. Ana Moura e Raquel Tavares, mais do que promessas, ficaram onde? À porta do Faia? E, no entanto, o Toni Garrido aparece??! Este ex-Cidade Negra, uma banda brasileira deplorável?!?!?! E o grupo Kola San Jon?!?!? O que faz ali ao início do filme?!?! Era suposto ser o início do fado?!?

Resta-nos a memória das coisas boas do filme. Sim, também as há. Cuca Roseta. A viragem de NBC e SP&Wilson. A Brigada Victor Jara. O bailado já referido de um tema interpretado por Mariza. E valeu também a intenção. Ó Saura, porreiro pá!....

Wednesday, November 21, 2007

Alma de taxista…

…devo ter alma de taxista. Apresento sintomas indeléveis que dentro deste antro de má vida está alojado um bigode farfalhudo, uma buzina latente, um vernáculo ocasional, apetite por mapas e caminhos e ladeiras e esquinas e garagens, e capacidade (assumida) para desconversar.

Cada vez que viajo de táxi sinto uma simpatia e cumplicidade com os homens do volante que até me enternece. Dou por mim a sugerir caminhos perante a concordância absoluta dos “chóferes”. E eles discutem de forma saudável e aprazível os vários caminhos a tomar. Tocam os sininhos com tanto amor…

Consigo chegar a níveis de intimidade que vão de encontro aqueles corações felpudos daqueles machos fedorentos (sem suor, não é taxista), sempre capazes de mandar a senhora com o pisca trocado para a meretriz da prima delas. Desde a confissão de casos extra-matrimoniais a violência doméstica (sim, eles a apanharem delas), divórcios latentes, voltas até às Caldas da Rainha, Elefante Branco, estações de rádio, a ciência nula do futebol (claro!), ou como partindo de uma observação meteorológica desbocamos nos fartos seios da loira que está prestes a atravessar a passadeira.

Sempre que entro num carro, que não um táxi, assumo o comando do volante (será que Freud já tinha qualquer coisa a dizer sobre este facto?). Gosto de servir um bom passeio. Não raras as vezes pergunto a quem me acompanha se quer por ali ou por acolá, definindo por «passeio» ou «directo ao assunto». Tenho um contra enquanto motorista, não buzino.

Sou rapazinho para azucrinar o motorista do táxi acerca das suas escolhas na hora de sintonizar uma estação de rádio. Mais mexida. Menos cantada. Mais notícias. Mais rádio de táxis a pedir uma viatura para o Califa

Em dias mais mórbidos, de silêncio do passageiro (euzinho), viajo nas histórias que estarão para lá do olhar cansado que o retrovisor estampa. Quem será aquele homem às 05h00 da manhã, cheio de energia para apitar numa rua ampla tendo só um carro pela frente?

Entre tantas outras sintonias com os homens da praça, tenho uma da qual me orgulho e que nunca me falha. Nunca, nem mesmo em plena Avenida da Boavista, no Porto, quando encalho com um parceiro dos sete costados e acabamos por discutir o assunto tabu - futebol. Acima de tudo tenho a melhor qualidade para ser taxista, sou do Benfica!...

Wednesday, November 14, 2007

Já comeu ananás hoje?

não! Mas também não comi ananás ferro-velho. Nem ananás ontem. Nem ananás barco do amor. Nem ananás Madragoa. Mas que porra de género de fruto é «ananás hoje»?

Pois. Esta guerra comprei-a logo de manhã. O leitinho matinal não tinha encontrado o seu amigo esófago e o facto de ter estado a trabalhar durante o fim-de-semana a fazer de dama-de-honor a um super-artista nacional (julga ele e a família do próprio), não resultava da melhor forma na hora de abordar tudo o que estivesse fora da minha bolha.

Logo a seguir à Rotunda do Relógio deparo-me com uma campanha da Compal, numa aposta de um milhão de euros para espalhar o «Ananás Hoje» por todo o País. Um mupi todo colorido. É uma campanha que até tem o apoio da Organização Mundial de Saúde. Divino maravilhoso!

Mas não tem o apoio dos semânticos da língua portuguesa. E isso, isso pode destruir qualquer campanha publicitária. E mesmo os sintácticos estarão para aturar um desvio formal daqueles? Não faltará ali uma vírgula? Uma reformulação de onde poderia ser colocado o «hoje»? Que tal ao início da frase com «E hoje, já…». «Já comeu ananás hoje»?!?!??!

Pelo que dá a entender o «hoje» é uma espécie de ananás. Pressupõe-se que há outros tipos de ananás. Ananás amanhã. Ananás ontem. Onde nascerá o «ananás hoje»? No Ártico? Na Sibéria? No cimento? Será? Ninguém pensou em rever a questão? Reformular a pergunta? Isto está por tudo e a linguagem tecnológica (krer, abraxos e afins) aliada ao desenvolvimento da não-informação dos jornais gratuitos está a assaltar tudo e todos?

Quem questiona neste texto desprezível não é um arauto da língua portuguesa. Não é um delfim de Luís Filipe Lindley Cintra. Muito menos um apreciador da fanhozice pedagógica da ex-miss Sintra, Edite Estrela. Pese embora me confesse apaixonado pelo docente Carlos Pessoa (Lusófona). Apenas importo-me, de tempos a tempos, com algo mais do que o tamanho do meu cabelo, quanto ficou o Benfica, e onde irei numa sexta-feira à noite. Aborrece-me aquela espécie de conjugação coordenativa, ou não…

Fiquei irritado. Mas uma coisa quase feminina. Nada de mandar uma morraça no banco e amarrotar a casaco da Fubu do «mano» da frente. Nem muito menos fiquei com aquela expressão na boca do «irrita-me solenemente». Mas o que será isso de «irritar solenemente»? Um tipo de palitó com os punhos cerrados, olhos fechados, suor pelo rosto, mas sem mexer um milímetro? Assim, muito irritadinho, mas de forma solene. Não vá a Associação de Boas-Maneiras aparecer e proibi-lo de se irritar mais uma vez que seja.

Irritar solenemente e Ananás Hoje são as piores que podem acontecer a uma segunda-feira de manhã. Portanto. Não, nunca comi «Ananás Hoje» e tenho dúvidas que alguém já o tenha feito. E levo o caminho desde o Relógio até Benfica a pensar: Também haverá Bananas Carpiteiro? E Morangos Sexta-feira? A que saberá a Manga dia 31 de Novembro de 2015? Vou irritar-me alarvemente...

Thursday, November 08, 2007

Não é que (parte II)…

…me queira repetir. Ou até parecer um rezingão com pouco mais que fazer do que propriamente andar a tentar apanhar o rabo com a própria boca. Mas os Radiohead mexeram com a malta. Em duas fases distintas. Numa primeira fase pela sua qualidade musical (primeira metade da carreira), e, posteriormente, pela tentativa de extrapolar limites impostos pelas condicionantes da nova era tecnológica (segunda metade da carreira).

A polémica foi tal que só neste cantinho lusitano de esquizofrenias múltiplas suscitou reacções tão díspares que, não sendo case study, poderiam servir para percebermos que a banda tem importância muito significativa por estas paragens, e que muito boa gente percebeu que os rapazes tentaram algo mais do que a edição de um disco.

Os românticos (como tão bem descreveu o meu excelso Vítor Belanciano num artigo sóbrio no Público) não perceberam a profundidade da prosa apresentada pelos Radiohead. E qual dama encantada pela viola do fidalgo, deixaram-se cair em tentação (da cantiga), não se livrando do mal.

Caíram na cantiga do malandro. Cantaram a plenos pulmões que o mundo ia mudar, girar, ficar de cabeça para baixo, despir-se, comer-se, tudo e mais alguma coisa. Tudo porque a banda acabará de editar o seu último álbum via online. Assim de grosso modo, claro está.

Mas a boca azedou quando a notícia de que o grupo de Oxford iria (também) vender o seu novíssimo e estimado álbum via circuito normal. Ó que grande espanto! E tudo porquê? Múltiplas razões, certamente.

Tudo isto já estaria pensado? As canções (diz-se) até são os lados B de algo que estará por sair pela via normal? As canções são fracas e havia que colocar a máquina de markting em movimento? Só algumas questões. Pobres e nada mais. A chica-espertice engana um, mas não engana o mundo…

Muitos acabaram por não pagar um quinhão que seja pelo download do álbum e qual reviravolta do político mais demagogo, o grupo vê-se obrigado a chegar ao mercado normal via o seu mísero CD. Isto é, a reviravolta mundial do negócio da música acabou por contornar uma espécie de alguém que grita na praia que «vem aí um Tsunami» para todos olharem para o mar e o alarmista poder gamar a carteira da senhora incauta e distraída a olhar para o horizonte marítimo.

A reviravolta. O drama. O horror. Adeus românticos. Olá românticos. Soluções? Há?

Friday, November 02, 2007

A AMY nos EMA…

…foi assim qualquer coisa…Quem não viu, deve poder encontrar
  • no Youtube
  • ou num servidor parecido. Pese embora, com as dimensões reduzidas não deve ser possível fazer a leitura do rosto e dos gestos mínimos que a menina debitou em palco. «Black to Black» foi o tema cantado.

    Um lamento. E confesso-o não que esteja minimamente arrependido dos votos de amor que já declarei nesta chafarica a tão nobre artista. Recorro-me a eles, inclusivamente, para me lembrar o quão grande é. E não «foi». Ela é. Ponto.

    Um lamento. Uma cara vazia. Uma voz alucinada mas dentro do tom quando as correias dos cavalos não a puxaram para um buraco muito profundo. Umas mãos sem saber onde se instalar, a não ser em duas ou três coçadelas no nariz como quem empurra algo que deveria divertir mas que lhe corrói a graça.

    A música passou a ser um grunhido contínuo, uma coisa difícil. Uma dor contínua. Um talento lamacento em caldos tórridos de dor e sofrimento. Sem tempero. Sem sabor. Como se soubéssemos que a tigela é boa. Os produtos são bons. O cozinheiro é óptimo. Os legumes são do melhor. Mas a sopa tinha qualquer coisa…nem era azedo

    Ao verificar os olhos da doce Amy, lembrei-me de um outro junkie filmado para a mesma estação televisica. O meu digníssimo Layne Staley (RIP). Os Alice in Chains já eram qualquer coisa. Não se estreavam nas lides de estrelas. Já o eram. E aqueles olhos a rebolarem entre o branco da contorção e a palidez do rosto gasto de enganos sociais

    Resta-me o consolo de na hora em que debito estas palavras, sem muito interesse literário ou pertinência para lá da pessoalidade, ouvir (e espreitar) o tema que passa na televisão. A minha querida Amy e o seu produtor Mark Ronson
  • «Valerie»
  • …canta rapariga, que cantas tão bem….