Duas Coisas Muito Importantes

Na era da imagem. Sem imagens. Só palavras de duplo sentido. Que desenham qualquer coisa...

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Wednesday, November 14, 2007

Já comeu ananás hoje?

não! Mas também não comi ananás ferro-velho. Nem ananás ontem. Nem ananás barco do amor. Nem ananás Madragoa. Mas que porra de género de fruto é «ananás hoje»?

Pois. Esta guerra comprei-a logo de manhã. O leitinho matinal não tinha encontrado o seu amigo esófago e o facto de ter estado a trabalhar durante o fim-de-semana a fazer de dama-de-honor a um super-artista nacional (julga ele e a família do próprio), não resultava da melhor forma na hora de abordar tudo o que estivesse fora da minha bolha.

Logo a seguir à Rotunda do Relógio deparo-me com uma campanha da Compal, numa aposta de um milhão de euros para espalhar o «Ananás Hoje» por todo o País. Um mupi todo colorido. É uma campanha que até tem o apoio da Organização Mundial de Saúde. Divino maravilhoso!

Mas não tem o apoio dos semânticos da língua portuguesa. E isso, isso pode destruir qualquer campanha publicitária. E mesmo os sintácticos estarão para aturar um desvio formal daqueles? Não faltará ali uma vírgula? Uma reformulação de onde poderia ser colocado o «hoje»? Que tal ao início da frase com «E hoje, já…». «Já comeu ananás hoje»?!?!??!

Pelo que dá a entender o «hoje» é uma espécie de ananás. Pressupõe-se que há outros tipos de ananás. Ananás amanhã. Ananás ontem. Onde nascerá o «ananás hoje»? No Ártico? Na Sibéria? No cimento? Será? Ninguém pensou em rever a questão? Reformular a pergunta? Isto está por tudo e a linguagem tecnológica (krer, abraxos e afins) aliada ao desenvolvimento da não-informação dos jornais gratuitos está a assaltar tudo e todos?

Quem questiona neste texto desprezível não é um arauto da língua portuguesa. Não é um delfim de Luís Filipe Lindley Cintra. Muito menos um apreciador da fanhozice pedagógica da ex-miss Sintra, Edite Estrela. Pese embora me confesse apaixonado pelo docente Carlos Pessoa (Lusófona). Apenas importo-me, de tempos a tempos, com algo mais do que o tamanho do meu cabelo, quanto ficou o Benfica, e onde irei numa sexta-feira à noite. Aborrece-me aquela espécie de conjugação coordenativa, ou não…

Fiquei irritado. Mas uma coisa quase feminina. Nada de mandar uma morraça no banco e amarrotar a casaco da Fubu do «mano» da frente. Nem muito menos fiquei com aquela expressão na boca do «irrita-me solenemente». Mas o que será isso de «irritar solenemente»? Um tipo de palitó com os punhos cerrados, olhos fechados, suor pelo rosto, mas sem mexer um milímetro? Assim, muito irritadinho, mas de forma solene. Não vá a Associação de Boas-Maneiras aparecer e proibi-lo de se irritar mais uma vez que seja.

Irritar solenemente e Ananás Hoje são as piores que podem acontecer a uma segunda-feira de manhã. Portanto. Não, nunca comi «Ananás Hoje» e tenho dúvidas que alguém já o tenha feito. E levo o caminho desde o Relógio até Benfica a pensar: Também haverá Bananas Carpiteiro? E Morangos Sexta-feira? A que saberá a Manga dia 31 de Novembro de 2015? Vou irritar-me alarvemente...

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