Duas Coisas Muito Importantes

Na era da imagem. Sem imagens. Só palavras de duplo sentido. Que desenham qualquer coisa...

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Location: Lisboa, Olissipo, Portugal

Friday, June 01, 2007

Às vezes o amor…

…numa melodia. Numa música. Numa cadência. Num conjunto. Numa forma de cantar. Numa postura. No sexo entre músicos. No romance entre palavra e nota. Às vezes o amor entre alguns e outros enumerados transportam-nos para estratosferas mesmo acima do couro cabeludo.

São coisas muito pequenas. Por vezes demasiado mainstream para considerarmos um amor único. Só nosso. É inevitável termos que partilhar grandes canções com uma multidão de 5 pessoas ou a impessoalidade de um Pavilhão. E às vezes o amor acontece.

Apaixonei-me por uma música. Apaixonar pelo ódio que me causa. Pelo transtorno que provoca. Apaixonei-me no sentido em que nada pior do que o preconceito pode nos absorver e não revelarmos a perspicácia que o erro vive «right next door». Perdoar só porque é a Lopez quando podia ser Costa, Santos ou mesmo Lopes. «Qué Hiciste», da queridíssima Jennifer Lopez, é do pior que pode ter acontecido ao rabo da cantora referida. O quadril proto-latino desfaleceu. Tornou-se obsoleto. A erecção musical tornou-se uma coisa dengosa. Triste.

Se a imagem tão fresca quanto um lança-chamas da queriduxa J.Lo era um quase-desvio ao que os televisores debitavam musicalmente, o acidente verificado com esta música apresenta-se como quase uma paralisia irreversível de um atleta de alta competição em idade pré-adulta. Arrepiante e fatal. «Million Dollar Baby», estão a ver?

É um tema ao nível de outras tantas Cláudia Isabel ou Romana desta praça. É cerrar os olhos e pensar nas imagens dos artistas que bezuntam um programa como «Fátima» logo no alvoroço do dia. É pensar numa Serenela Andrade com um decote de gola alta, em Junho, a apresentar uma nova artista com um nome tipo Sónia Costa. «Qué Hiciste» é inenarrável. É um atentado ao rádio shunning. É um desgosto suburbano. Alimenta doenças infecciosas e propaga o sexo inseguro. É terrivelmente machista. É inoportuno. Ponto.

Tudo isto ocorre-me quando, espojado neste início de Verão, revejo uma obra prima (quiçá massificada) recuperada pelo majestoso Johnny Cash. Nesse momento mede-se a distância entre um sub-produto e a equação mágica das grandes músicas. Trata-se de «Hurt», canção escrita por um rapaz «diferente» nascido nas Américas. Trent Reznor, no caso. É incomparável, mas foi numa troca de canais televisivos que o choque se deu. E no momento absorvermos o vídeoclip com Cash no definhar sublime de uma vida única. A canção trágico-bela inatingível. A música acima do ser humano. Maior do que nós. Maior do que a televisão. Maior do que as minhas orelhas. Maior do que o ego.

Às vezes o amor por estas pequenas coisas de menos de 5 minutos aloja-se no inconsciente. E por muito que, numa “faena” de aplauso de pé, nos desviemos de esterco sonoro enrolado num corpo de 150 euros à hora, teremos sempre o consolo de nos abraçarmos a meia dúzia de minutos sublimes que nos vão cruzando nos entroncamentos da memória. Johnny Cash é apenas um sonho bonito

1 Comments:

Blogger Ophélia said...

:)

8:10 PM  

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