Duas Coisas Muito Importantes

Na era da imagem. Sem imagens. Só palavras de duplo sentido. Que desenham qualquer coisa...

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Location: Lisboa, Olissipo, Portugal

Tuesday, February 06, 2007

Londres, sempre Londres…

…eu sei, Lisboa. Eu sei os ciúmes que te assolam quando menciono Londres no mais corriqueiro contexto. Eu sei que não me perdoas. Que tendes a torcer o pescoço, de forma regrada, mas a torcer num movimento de repulsa. Também sabes que para mim serás sempre a “menina e moça”, como cantaram (cantam!) os nossos fadistas. A mágica. Não te rales por elogiar outras. Para ti recanto Lenine – “Só você, Hoje elejo e elogio só você, Só você, Que nem você não há nem quem nem quê.”

O que acontece com Londres nem chega a ser traição. Nem é, propriamente, o esbugalhar os olhos com uma incauta que nos rasga os olhos numa noite turva. Nem se trata de saborear uma capa de uma qualquer evasiva revista masculina. Imagina que nem chega a piropo. Tu sabes quem somos.

Só que Londres potencializa o ser humano. Readapta-o. Apresenta a mestiçagem. As possibilidades. A descontracção. O saber estar. A desordem social. O respeito à diferença. O barulho. O receber sem perguntar de onde vem. Mais, é uma cidade que se respeita e torna-se arrogante, características que muito aprecio àqueles que não têm medo de se assumir como únicos. Mas adiante, que não estamos aqui para um manifesto romântico.

Londres deu-me mais duas coisas. Uma igreja com uma banda. St. John`s, na Smith Square. Ali quem desce da Rotunda do Relógio pó tasco do Mourinho. Deu-me essa capela com uma prova de vinhos nas antigas catacumbas. Nasceu em 1728 e foi restaurada depois da II Guerra Mundial. Vende o panfleto promocional deste estabelecimento no coração de Westminster que a acústica é soberba.

Ora…a acústica. E Londres espetou-me a segunda “coisa” nas costas. Uma banda dentro da igreja. Os Arcade Fire no caso. «Neon Bible», o novo álbum. Muito interessante, por sinal. Mais Bruce Springsteen, menos Prefab Sprout e o som de Phill Spector, é por aí. E que juntando ao disco anterior, resulta num grande, grande concerto. Aliás, sabendo eles (a banda) o que representa Joe Strummer aqui para este grotesco ser, lembraram-se de abrir o espectáculo, mesmo no centro da igrejazinha, mesminho ali no centrinho, em formato acústico, lembraram-se de tocar, dizia eu, o estuporzinho do «Guns of Brixton» daquela bandeca medíocre que só meia-dúzia de inúteis é que se dá ao trabalho de menosprezar o talento. Os The Clash, portanto.

Resumindo”, pensei eu. “Estou em Londres, cidade que odeio. A ouvir uma música horrenda num lugar particularmente desprezível. A banda é sofrível…”. Os jornalistas a tirar notas e eu a escrever uma mensagem a Lisboa. “Estupenda, não se passa nada aqui. Estou cheio de saudades tuas. Ligo-te do hotel”…

P.S.: Londres. Ainda tu. Não é que a selecção portuguesa acaba de bater o Brasil por 2-0, num jogo que decorreu em Londres?! E aqueles comentadores brasileiros da TV Record que esfacelam tanto o nosso “tchimi”…para a próxima, "irmãos", para a próxima...

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