Duas Coisas Muito Importantes

Na era da imagem. Sem imagens. Só palavras de duplo sentido. Que desenham qualquer coisa...

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Wednesday, January 10, 2007

CD`s não…

«CD`s não». Esta foi a resposta sucinta, e muito marcante, que o sujeito A deu ao sujeito B, por sinal, um grande parceiro meu. O mesmo sujeito B apenas tinha aconselhado a namorada do irredutível sujeito A uma hipotética prenda de aniversário, ou seja, um CD. O episódio foi-me relatado pelo meu camarada (sim, o B). E aquilo latejou-me alarvemente neste bidon de ideias perdidas em que acumulo funções cerebrais.

É um assunto caro a melómanos. O iminente desaparecimento do disco. Os padrões tendem a alterar-se. O próprio sujeito B (sim, o meu camarada) confidenciou-me que o mesmo indivíduo que rejeitara a oferenda é ele próprio um semi-melómano. Mas de outros tempos. Destes tempos controversos em que se assiste a um massificante desapego do objecto, quando, ao invés, se proclama sociedade materialista. Confuso, não? Então quando o indivíduo mais bem posicionado no seu ágora social é aquele que apresenta um rol maior de objectos/produtos/etc., onde é que se faz lógica quando a posse de CD deixa de ser obrigatória?

Livrando-me de qualquer perspectiva de apologista do consumo, apenas tento conjecturar neste reduzido espaço encefálico, quais as lógicas neste paradigma. Sociedade materialista rejeita objectos (CD`s). Ok…

E prossigo. Será que a música deixará de figurar, em breve, no espectro artístico? Ou seja. Qualquer obra artística, das artes plásticas ao teatro, do cinema à pintura, a obra de arte quer-se contemplada. Observável. Palpável. Quase que tridimensional. Algo que nos obrigue ao movimento perante a mesma obra, ou nos derreta imóveis. O que seria dos quadros caso se reduzissem a um ficheiro com nome e extensão apenas reproduzível em máquinas? O teatro seria exequível caso não existisse em palco mas sim num documento de 873 kb? E a música? Será que a música vai estar reduzida ao referido ficheiro, sem qualquer apego visual? Sem sugestão? Apenas mais um ficheiro entre milhares? Não será possível albergar outras disciplinas artísticas (gráficas ou multimédia) que era possível apreciar num CD, vinil ou K7? Nada? Só um ficheiro? uma música de uma banda da Tailândia? Sem um obrigado ao primo deles nos acknoledgments do disco? Sem ficarmos a conhecer o trabalho visual de um tipo chileno, que mesmo com fracos recursos, conseguia um resultado surpreendente nas capas de discos de bandas australianas?

Quer dizer, já ficamos desvirtuados de ficar a olhar para o rodar do vinil desde que os CD vieram esgalhar as rotações dos discos. Alguns ainda continuam a olhar para o visor do leitor de CDs, mas isso são outros vícios…O que nos resta então?

Ok, “a música é para ser ouvida” dirão os mais despachados, só naquela da urgência pela novidade revelando a descontinuidade intelectual e deficiência na percepção de mais do que livros da escola e “chica espertice” de bairro. Não sei. Mas não sei mesmo.

Aguardo pelo dia em que, um grande artista decide editar um só tema. Passados dois/três meses edita outro. E depois logo vê se lhe apetece mais. Tudo via online. E aí voltamos aos idos dias do single. Das bandas/artistas do one hit single. Aqueles artistas fugazes que nunca mais ouvimos falar. Os Gnars Barkley já eram uma aproximação à coisa. Mas lá se decidiram pelo álbum...Estamos reduzidos ao vácuo de conjugação de binários? Não posso ter mais obras de arte na minha mão?...

1 Comments:

Blogger Trojan00 said...

Ora que eu agradeço muito.

Espero pela surpresa.

Vá...mostra lá isso...

2:26 PM  

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