Coimbra, afinal tu…

…tu…tens mesmo encanto. Admito a imbecilidade de nunca ter dedicado mais tempo ao estudo de tão secular cidade. Importantíssima no desenvolvimento intelectual deste Portugalzinho querido. Roteiro obrigatório quando ainda não ultrapassamos a faixa etária dos 5 anos e somos levados ao Portugal dos Pequeninos. Paixão inexplicável pela Académica de Coimbra, só porque sim, provavelmente. Recordação de uma noite deliciosa na companhia de dignos músicos locais e um altíssimo profissional da nossa praça jornalística. Antro de criação artística sui generis, com várias incontornáveis confusões entre Mondego e Mississippi, Lux Records e Stax, fado e blues, etc., etc., etc..

Desta feita, a visita concedia um espaço de manobra para, aliado ao trabalho, poder escarafunchar algo mais sobre a dita cidade. Primeiro, o dever. Colaborar para um espectáculo da Brigada Victor Jara é por si só motivo de algum embevecimento. Congregar ao espectáculo, a presença de ilustre figura como André Sousa Machado…Bom, estamos perto do Inferno e somos seres felizes. Para os mais atentos, o Andrézinho é, quiçá, o melhor baterista português, muito ligado a áreas como o jazz e música popular portuguesa. Poder assistir a um espectáculo da digníssima Brigada, e ao mesmo tempo assistir ao one man show do Andrézinho…quer dizer, nem uma hora tinha passado desde que chegara a Coimbra e já a viagem tinha o trago de vitória…Poder encarar uma tertúlia durante um jantar, que começara à 01h00 da manhã, parecia-me ser o algo mais do que mera coincidência…

A noite passou e avançou-se para a Coimbra, em si. Sol e frio. Ideal para passear. Sentir a cidade. Tomar-lhe o pulso. Percorrer as estreitas ruas, pontualmente ocupadas por bares convidativos à degustação boémia. Passar por casas anteriormente habitadas por gente como Zeca Afonso, e/ou Repúblicas de gente saudavelmente endoidecida pela bondade etária. Sentir que a Galiza, vá-se lá saber porquê, está muito presente nas frases espalhadas por várias paredes. Era feriado e as ruas para mim. Objectivo principal: subir ao complexo universitário e conhecer. Pelo simples prazer que o conhecimento proporciona ao mortal.

Entre a humildade convidativa e a altivez académica, o complexo puxou-me lá de cima do cume para se revelar um dos momentos arquitectónicos mais tensos que devo ter visitado. Tenso é a palavra. Sente-se ali naquele átrio vazio da Faculdade de Direito muita história. Um silêncio docente. Os pássaros não ousam pousar ali. Um registo visual imponente a interceder junto do pôr-do-sol. Arrepiante? Deixo-me de picuinhices…

De forma jocosa, obviamente, equacionei o porquê das capas e batinas…o complexo académico situa-se, realmente, num lugar muito alto e ventoso e tal vestimenta serve para protecção do corpo, pensei eu… E os cartazes para as eleições da Associação Académica pareceram-me demasiado “secundária” para tamanha imponência académica…

O adeus fez-se sobre o Mondego entre almoços de família, miúdos irrequietos, casais atrapalhados, empregados com o “oi” na boca...Mas não fazendo caso aos ouvidos, o Mondego escorria muito bem…