Naquele tempo…
…Portugal continuava na plenitude da sua esquizofrenia. Os seus tormentos com ou sem cabo. As suas idiossincrasias complexas. O choro porque doía. E o choro porque já não doía. No longínquo ano de 2007, o plano dos afectos ainda era um pranto incontrolável para Portugal, nas mais variadas áreas da sociedade portuguesa de então.
As estações de rádio ainda continuavam activas por aquela altura. De carácter privado e, imagine-se, estatal. O estado português, chefiado por José Sócrates na altura, continuava entorpecido na gestão da televisão e rádio públicas. Se no caso da televisão a aposta em memórias do passado, com a tentativa de vender produtos (leia-se apresentadores) como se o paleolítico Estado Novo ainda respirasse nos corredores da televisão estatal, a rádio enrolava-se no mortulho.
O caso mais grave em termos patológicos, porém, prendia-se com a Antena 1. Naquele tempo, a rádio era como que a consequência natural dos megafones das aldeias. Debitava umas músicas, entretinha os carneiros e informava sobre o trânsito, dado que na altura, os dispositivos, que conhecemos hoje como o Google Earth Live, ainda não constava nos equipamentos dos automóveis. Naquele tempo, a rádio funcionava ainda para apresentar artistas das mais variadas áreas perante um auditório menos desenvolvido e menos adaptado à Internet.
A rádio apresentava, hipoteticamente, as novidades. Excepto um género de novidades. As que surgiam do núcleo fadista portugês. Se o resto da Europa já celebrava com a casta Cabarnet Sauvignon os monumentais espectáculos de figuras míticas como Camané, Cristina Branco e Ana Moura, entre outros, a rádio estatal portuguesa continuava a não se impressionar com o facto evidente. Levantava o nariz e seguia rápido para as notícias sobre a A23 e a Segunda Circular.
Em 2007, e poucos meses após a mediatização de um «Provedor do Ouvinte», a rádio nacional, Antena 1, continuava a não admitir a sua génese. Qual mulher encurralada num corpo deformado por um saliente pénis indesejado, a tentar libertar-se de tal equívoco genético, o canal principal da rádio estatal continuava a não admitir que fazia parte do conceito «serviço público» no País do fado.
Quando o género musical se aproximava da rádio, fosse através de álbuns ou com a visista de artistas (vulgo, fadistas), os mesmos desciam imediatamente aos calaboços da rádio para acumular sovas descontroladas do sumo pontífice «Provedor do Ouvinte». Locutores, animadores, jornalistas, recepcionistas, animais de estimação, ratos de esgoto, todos tinham direito a violentar todo e qualquer fadista, ou álbum de fado, que se passeasse pelas instalações da rádio.
Se hoje em dia, décadas depois, o fado assume-se como o desígnio nacional que mais nos distingue além Europa, em 2007, o género musical conotado com Portugal era ostracizado com tamanha violência intelectual e física que quase exterminava a raça «fadista»…
As estações de rádio ainda continuavam activas por aquela altura. De carácter privado e, imagine-se, estatal. O estado português, chefiado por José Sócrates na altura, continuava entorpecido na gestão da televisão e rádio públicas. Se no caso da televisão a aposta em memórias do passado, com a tentativa de vender produtos (leia-se apresentadores) como se o paleolítico Estado Novo ainda respirasse nos corredores da televisão estatal, a rádio enrolava-se no mortulho.
O caso mais grave em termos patológicos, porém, prendia-se com a Antena 1. Naquele tempo, a rádio era como que a consequência natural dos megafones das aldeias. Debitava umas músicas, entretinha os carneiros e informava sobre o trânsito, dado que na altura, os dispositivos, que conhecemos hoje como o Google Earth Live, ainda não constava nos equipamentos dos automóveis. Naquele tempo, a rádio funcionava ainda para apresentar artistas das mais variadas áreas perante um auditório menos desenvolvido e menos adaptado à Internet.
A rádio apresentava, hipoteticamente, as novidades. Excepto um género de novidades. As que surgiam do núcleo fadista portugês. Se o resto da Europa já celebrava com a casta Cabarnet Sauvignon os monumentais espectáculos de figuras míticas como Camané, Cristina Branco e Ana Moura, entre outros, a rádio estatal portuguesa continuava a não se impressionar com o facto evidente. Levantava o nariz e seguia rápido para as notícias sobre a A23 e a Segunda Circular.
Em 2007, e poucos meses após a mediatização de um «Provedor do Ouvinte», a rádio nacional, Antena 1, continuava a não admitir a sua génese. Qual mulher encurralada num corpo deformado por um saliente pénis indesejado, a tentar libertar-se de tal equívoco genético, o canal principal da rádio estatal continuava a não admitir que fazia parte do conceito «serviço público» no País do fado.
Quando o género musical se aproximava da rádio, fosse através de álbuns ou com a visista de artistas (vulgo, fadistas), os mesmos desciam imediatamente aos calaboços da rádio para acumular sovas descontroladas do sumo pontífice «Provedor do Ouvinte». Locutores, animadores, jornalistas, recepcionistas, animais de estimação, ratos de esgoto, todos tinham direito a violentar todo e qualquer fadista, ou álbum de fado, que se passeasse pelas instalações da rádio.
Se hoje em dia, décadas depois, o fado assume-se como o desígnio nacional que mais nos distingue além Europa, em 2007, o género musical conotado com Portugal era ostracizado com tamanha violência intelectual e física que quase exterminava a raça «fadista»…
2 Comments:
Não me parece que isto esteja assim tão mau! :)
Perdão: que estivesse assim tão mau (no ano de 2007)
Olhe que não olhe que não...
Isto está mesmo difícil...
Post a Comment
<< Home