Duas Coisas Muito Importantes

Na era da imagem. Sem imagens. Só palavras de duplo sentido. Que desenham qualquer coisa...

Name:
Location: Lisboa, Olissipo, Portugal

Tuesday, August 28, 2007

Naquele tempo…

…Portugal continuava na plenitude da sua esquizofrenia. Os seus tormentos com ou sem cabo. As suas idiossincrasias complexas. O choro porque doía. E o choro porque já não doía. No longínquo ano de 2007, o plano dos afectos ainda era um pranto incontrolável para Portugal, nas mais variadas áreas da sociedade portuguesa de então.

As estações de rádio ainda continuavam activas por aquela altura. De carácter privado e, imagine-se, estatal. O estado português, chefiado por José Sócrates na altura, continuava entorpecido na gestão da televisão e rádio públicas. Se no caso da televisão a aposta em memórias do passado, com a tentativa de vender produtos (leia-se apresentadores) como se o paleolítico Estado Novo ainda respirasse nos corredores da televisão estatal, a rádio enrolava-se no mortulho.

O caso mais grave em termos patológicos, porém, prendia-se com a Antena 1. Naquele tempo, a rádio era como que a consequência natural dos megafones das aldeias. Debitava umas músicas, entretinha os carneiros e informava sobre o trânsito, dado que na altura, os dispositivos, que conhecemos hoje como o Google Earth Live, ainda não constava nos equipamentos dos automóveis. Naquele tempo, a rádio funcionava ainda para apresentar artistas das mais variadas áreas perante um auditório menos desenvolvido e menos adaptado à Internet.

A rádio apresentava, hipoteticamente, as novidades. Excepto um género de novidades. As que surgiam do núcleo fadista portugês. Se o resto da Europa já celebrava com a casta Cabarnet Sauvignon os monumentais espectáculos de figuras míticas como Camané, Cristina Branco e Ana Moura, entre outros, a rádio estatal portuguesa continuava a não se impressionar com o facto evidente. Levantava o nariz e seguia rápido para as notícias sobre a A23 e a Segunda Circular.

Em 2007, e poucos meses após a mediatização de um «Provedor do Ouvinte», a rádio nacional, Antena 1, continuava a não admitir a sua génese. Qual mulher encurralada num corpo deformado por um saliente pénis indesejado, a tentar libertar-se de tal equívoco genético, o canal principal da rádio estatal continuava a não admitir que fazia parte do conceito «serviço público» no País do fado.

Quando o género musical se aproximava da rádio, fosse através de álbuns ou com a visista de artistas (vulgo, fadistas), os mesmos desciam imediatamente aos calaboços da rádio para acumular sovas descontroladas do sumo pontífice «Provedor do Ouvinte». Locutores, animadores, jornalistas, recepcionistas, animais de estimação, ratos de esgoto, todos tinham direito a violentar todo e qualquer fadista, ou álbum de fado, que se passeasse pelas instalações da rádio.


Se hoje em dia, décadas depois, o fado assume-se como o desígnio nacional que mais nos distingue além Europa, em 2007, o género musical conotado com Portugal era ostracizado com tamanha violência intelectual e física que quase exterminava a raça «fadista»…

Tuesday, August 21, 2007

O meu interesse…

…n`Os Pontos Negros é dos mais puros que me ocupou nos últimos tempos. Não sei quem são. Não sei onde nasceram. Não sei se há algum (pseudo) lobby em torno deles. Sei que vendem uma história no myspace(.com/ospontosnegros) que muito apreciei.

Esta manhã, uns colegas de uma editora discográfica falavam de uma banda engraçada. Como tantas outras. E mesmo noutras vezes, o cansaço já é tanto, tanto disco ouvido, que os petardos acabam por rebentar nas mãos…Mas esqueceram-se de especificar «coisas» que definem e alteram a observação sobre as novidades que vão surgindo.

Lírica interessante em português” seria um teaser apropriado para o meu interesse. “Idade imberbe” também poderia resultar num soundbyte meramente económico. Mas “DESCOMPROMETIMENTO” ter-me-ia abalroado. The Strokes e Los Hermanos era o casamento perfeito com o sotaque português. A surpresa!!!

São uns putos. Mesmo. 15 anos e picos. E assumem aquela borbulha com toda importância com que se sacode uma migalha de milfolhas da t-shirt de eleição, cheia de burbotos de tanto uso histérico-contido.

É rock em português. Sem qualquer paternalismo-coitadinho ou patriotismo-bacoco de quem tem que defender o que é nosso só porque somos incapazes de sonhar.

Sem complexos. Sem fado. Sem pensar no acorde perfeito. Sem pensar nas capas de revista teen. Sem «Morangos». Sem pensar em análises poéticas. Sem apelar ao pseudismo tão querido da massa pensante da nossa tuga eternamente esquizo.

Os Pontos Negros até podem acabar amanhã. Podem ser uns pulhas de uns rapazes armados ao pingarelho a riparem discos dos The Libertines sem se interessarem pelas lutas de Brighton e os The Who e outras aulas de história para legitimar o que quer que seja. Podem, acrescente-se, desmentir que o tema «Inês» não tem nada a ver com «Eu sou melhor que você» de Moreno Veloso. A banda pode, eventualmente, ser um flop ao vivo. Pode não prestar nem para montar palcos. Mas até prova em contrário, a banda vai ser uma grande banda no meu sistema hi-fi. Ou low-fi para ficar mais enquadrado…