Duas Coisas Muito Importantes

Na era da imagem. Sem imagens. Só palavras de duplo sentido. Que desenham qualquer coisa...

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Location: Lisboa, Olissipo, Portugal

Monday, November 27, 2006

Quando o direito conexo…

…faz todo o sentido neste espaço ciber-proto-pseudo-qualquer-coisa. Clarificando. Não sou o criador da frase «duas coisas muito importantes», mas sou o proprietário das múltiplas interpretações que atribui a esse paradigma. Este alerta vem no seguimento de dois artigos interessantíssimos, que o Público fez questão de publicar nos últimos tempos.

A primeira prosa reportava-se à importância da Cultura enquanto produto económico na massa de produção de um País. Facto que, desde sempre, quis ver destacado em Portugal e para o qual só encontrava artigos-manifestos assinados no Reino Unido. Só na Cool Britania a cultura era vista como uma componente importante de um sistema económico moderno. Serei neo-liberal por o assumir? E não assumir o lado «high culture» tão marxista-ó-depedente? Lá está, são as duas coisas muito importantes. Uma e a outra. Adiante…

O segundo artigo, mais recente, veio acalorar uma discussão unilateral, que a indústria discográfica tem tido pouca oportunidade de conseguir encontrar uma lógica de resposta. Os direitos conexos serviram de pretexto à prosa assinada por Bárbara Reis. Não conheço a moça, mas foi muito profissional e de uma extrema pertinência editorial. E porquê? Veio clarificar, sem tomar partido, do que se trata, afinal, os direitos conexos. «Quando se fala em direitos conexos, fala-se de música gravada e vídeoclips que passam em locais públicos», simplificando, como ela o escreveu. Ou seja. Se os direitos autorais já estavam assegurados aos criadores das obras, faltava clarificar o que restava aos intérpretes. Quem são esses? De Madonna a Mónica Sintra. Nenhum deles criador das suas obras. Todos eles intérpretes de um produto já pago (aos autores).

O elevadíssimo JP Simões chega mesmo a confessar que os 600 euros que o cheque referente aos direitos conexos, no ano de 2006, «chegou num mês particularmente difícil, depois de mil investimentos. Fiquei a pensar se não deveria ser mais, mas nunca tinha recebido nada de direitos conexos por isso foi bem-vindo». Isto porque os autores, e ao mesmo tempo intérpretes, também recebem direitos conexos, acrescentando aos direitos autorais. Dois ordenados, em leitura labrega.

A Cooperativa de Gestão dos Direitos dos Artistas ou Executantes vai andar em cima dos bares, dos centros comerciais, casas de passe, etc.. Fica o online à mercê. E retirando a paranóia em torno do myspace, arma fortíssima ainda pouco explorada pela indústria e músicos «de carreira», os mecanismos de legislação parecem ser claros e concretos.

Os precedentes são infindáveis. Fica por apurar quem recebe no caso da música popular, por exemplo. Será que a própria Brigada Victor Jara, por dar nova roupagem a uma música tradicional dos Açores, deverá receber os direitos conexos? Se não, quais as consequências? Esperar que se vendam discos? Não poderá ser considerado um «trabalho» esse processo de «apropriação» de um cancioneiro popular?

Na humilde percepção do escriba protege de sobremaneira os músicos. Os autores (reforça o papel destes) e os intérpretes. Talvez esta franja seja a menos criativa, limitando-se a cumprir coordenadas ditadas por um ser criativo. Mas ainda assim, dignos de defesa do seu labor. O que seria dos advogados se não recebessem o seu ordenado? Eles não criaram o sistema jurídico, logo não deviam receber por serem apenas intérpretes das leis. E os médicos? E outros etcs, com alguma demagogia à mistura…

Tuesday, November 21, 2006

O futebol digestivo…

…é algo que recomendo. Se é que tenho algum poder de sugestão seja para quem for para além pedir ao taxista que é melhor seguir pela Defensores de Chaves para um local qualquer. Mas recomendo o conceito «futebol digestivo» como forma de aliviar uma qualquer dor de estômago, ou apenas para concluirmos que estamos no trilho certo da lucidez se não nos envolvermos muito com o VeigaGate e outros dourados da praça.

O «Futebol Digestivo» é para ser saboreado como um bom Jameson after dinner. E reparem como já transcendo o conceito e utilizo letras maiúsculas no início de cada palavra, como se estivesse a dissertar sobre novas teses académicas…

O «Futebol Digestivo» assenta no poder de largar discussões noctívagas, e alteradas, de fins-de-semana em carrossel contínuo. De esquecer uns Wordsong meio-interessantes, no espectáculo da muitíssimo interessante Casa dos Dias d`Água. De omitir o sofrimento que foi-é-será assistir à carnificina sonora dos Cradle of Filth ao vivo. Contra tudo isto, Futebol Digestivo.

Voltar ao Estádio da Luz, o novo, é como tentar recuperar o primeiro amor. É quase como beijar a noiva, na presença do noivo, perante uma igreja entupida de entediantes sopeiras. É como tentar recuperar a vivacidade de sair de bicicleta nas madrugadoras 08h30 da manhã, de domingo, para cumprir 16 kilómetros e assistir a um jogo de futebol de juvenis entre a Petrogal e Povoense. Ou um jeitosinho Águias da Musgueira-Sacavenense, em iniciados, no extinto Campo dos Sacrifícios, em plena Musgueira.

É recalcar o facto de que um tipo nasceu/vive a 100 metros do afamado Campo Branca Lucas, terreiro de futebol do Sport Lisboa e Olivais por onde desfilaram jogadores planetários como Lacerda, Vítor Cruz, Paiva, Chiquinho, Artur, Ferro, Chalana, o irmão do Chalana (que ninguém sabia o nome, bem com o do próprio irmão…), entre tantos outros indefectíveis da minha infância

É ousar recuperar uma alegria qualquer perdida numa infância-adolescência em que o espaço de acção enquanto ser humano era orgulhosamente reduzido, por opção, a futebol, discos de Iron Maiden, Censurados, Peste & Sida, Ratos de Porão, Xutos & Pontapés, punk, metal e outras iguarias sonoras sobejamente indigestas ao mais refinado e inútil consumidor de música. Além da música, o futebol era a verdadeira companhia.

Voltar ao Estádio da Luz é acreditar num só dEUS. Cosme Damião, o criador do Sport Lisboa e Benfica. E ao escreve-lo associo o meu fascínio aos mosteiros de uma qualquer ordem religiosa. O regresso tem o seu quê de novidade.

E o Futebol Digestivo contém o bafo a vinho do homem que estava ao meu lado. O fumo de cigarro que teimava em perturbar-me. A pouca acutilância de quem resmunga com um ou outro elemento interveniente no jogo. Pouca acutilância? E então reparo. Estou num outro Estádio. Com outras pessoas. Mais bem vestidas do que as do velhinho Estádio. Menos cores berrantes. Mais dentes presentes no sorriso. E reparo de novo. Espera. Estou num Estádio com lugares marcados. Cativos. Em que sente-se a certeza de que o homem do lado pode lá estar todas as vezes que lá vamos. Podemos vir a estar mais com ele do que com quem gostamos. Sem o poder de improvisar um convite a um tipo qualquer para uma futebolada de ressaca ao domingo. Nada.

E mais. Imagino a agonia de um pai que até gostava de levar a sua cria à bola. Só para tentar ver se o miúdo largar as miseráveis bonecas da prima e começa a ter atitudes de homem, e passa a gritar pela mãe em vez de choramingar um «mamã…»….

Friday, November 17, 2006

Pode ser?

Amanhã penso
Hoje existo

Monday, November 13, 2006

No dia em que o taxista invadiu-me

O assunto é recorrente a qualquer ser urbano. Transportes públicos. Variantes várias. Elejo o táxi. Sou um “taxieater” (versão menor do «Meneater», da Nelly Frutada…). Também petisco noutros transportes públicos. Mas na intimidade criada entre motorista e passageiro, a minha preferência recai no formato táxi. E assumo-me, igualmente, como um provocador. Uma autêntica Nelly Frutada do banco de trás (outra vez?...). Gosto daquela pouca credibilidade que uma conversa de circunstância pode proporcionar. Àquele taxista podemos contar tudo. Sugo as informações debitadas entre um “estes dias de sol no Inverno é que não tão com nada”…ou “é que já existe violência física, que ela veio-me à tromba”…ALTO! Temos assunto!

Para esmiuçar a coisa, sugiro ainda uma leitura mais pormenorizada aos taxistas do Porto. Case study observável do ponto de vista de um alfacinha, está claro. E como numa boa loja chinesa, existe todos os tipos de taxistas. Os que se estão nas tintas para este “lisboeta finório”. O simpático quase a soltar um gás de familiaridade (“com este sol, Elas até reluzem”). O confidente lampião que um dia levou Reinaldo Teles ao Casino e sofre com as clientes da Av. da Boavista que exigem o relato de futebol no rádio do taxi. O afável na hora de enganar o patrão (“mas meto só isto ou arredondo para 10?”). Os que levantam o volume do rádio mal farejam “alface” no carro (“bai cumbersar cu…”). Os que sugerem francesinhas em Canelas (Gaia). Os que relembram as duas “bafatadas” cravadas “nu trumbil” da filha pela falta de respeito ao progenitor. Os que comunicam com os locais num dialecto pouco descodificável aos forasteiros (“pundié o meliá?”). Ou os que, simplesmente, em menos de 200 metros, confessam que mantêm um caso extra-conjugal há 16 anos (“o meu mais bélho é que descunfia…”). Eu prefiro o que taxista com o qual partilhei um acidente de viação. E prefiro também para evitar descrever a Tertúlia Castelense, local em que orgulhosamente consta uma decoração Estado Novo de gosto estético duvidoso…

“É para o Zé da Serra, em Gaia, por favor”, peço ao taxista com alguma, legitima, boa educação. Ele? Nada. Continuou ao telemóvel. Arranca e umas palavras enternecedoras: “oh, depois lhigo-te, unte preocupes”…No cantante, fado. Mas um fado torto. De k7. Ele, grisalho e cabelinho à búlgaro, versão Paulo Futre de cachucho. O carro já estava com 2.60 de taxímetro, quando o digníssimo profissional faz uma pausa na conversa telefónica e pergunta: “prádonde?”. “Restaurante Zé da Serra, em Gaia”, reconfirmo. O bigode lá deixa de murmurar ao telefone e a concentração seguiu na estrada. Um BMW feminino decide interromper a sessão de fado. Passámos o Marquês e os automóveis abalroam-se. “Ó que cuaralho, fudeu-me o carro tuodo, ó cuaralho…”. Despedi-me ao perguntar ao profissional da estrada se precisava do meu auxílio. “Obrigadinho, a menina sabe como muntou!”. Ora bem! “Quisto só num acuntece a quengue cá num ãunda!”. Adeus, que vou ter com a cultura viva do meu País (Brigada Victor Jara) que já mandaram vir uma cabeça de Garoupa prá mesa, acompanhada de filetes de Polvo e postas de Corvina. É em Gaia. E tudo aquilo sabe ao misto de taxistas que conheci…

Tuesday, November 07, 2006

Porque é que os dias tremem?

Com alguma indulgência aceito que o digníssimo leitor possa crer que tem direito a controlar seja o que for. Se eu não tenho, por altruísmo generalista, creio que os outros também são incapazes. Tomemos o exemplo que me assolou durante dois terços de uma semana (o que são dois terços de uma semana?)…

Constipação. Não vale a pena pensar que uma constipação possa largar o nosso corpo com uma auto-medicação. Ou com vacinas. Com um copo de leite largado no fogão entre o alcance dos chinelos e o cumprimento de uma necessidade fisiológica com uma engelhada e ligeira altercação física matinal entre mãos. Ou mesmo com repouso. Com lareiras. Ou com lenços de algodão quentinhos. Debaixo de uns edredons invernosos. Ou, no mais autofágico movimento, com uma garrafa de whiskey.

Nenhuma das hipóteses é suficiente. O que fazer então? Nada como a sapiência materna para afugentar o mau olhado dos fungos. Nada como o leitinho quente servido na cama por aquela criatura, que pelo menos gemeu duas vezes na sua vida. Uma, de prazer na hora da feitura (suponho eu…). Outra, na hora de rebentar o útero para me soltar do anonimato para as mãos de um parteiro gay, que não me conhecendo, esbofeteou-me nas nádegas à espera de um olhar carinhoso da minha parte…

E com a bênção materna parte-se em busca do fumo das caves do fim-de-semana. Do OndaJazz, via ProjectoYeti, nos 36 segundos brilhantes de cada tema. E não se fuma nas mesas da frente. Para o fumo total (empedernido) no Armazém C2, em Alcântara, para ver o Tony Carreira de Trench Town, cidade de Kingston. O próprio, o senhor Gregory Isaacs. Um ex-Trojan Records e um feitor de baladonas e embalos fumarentos ainda o calyspo fazia roçar as incautas nos americanóides arrítmicos alojados nos hotéis de Kingston. Um desespero bem vestido.

E o coração a bater. E os dias passam a tremer. Eram 20h26 de domingo e o João Bosco largava-me a mão. Mas João, eu queria agarrar-lhe a mão, esse louvado membro, acompanhado por outro gémeo, que nos têm dado esse samba demasiado técnico para a sexualidade humana. A sério João, agradeço-lhe. Aliás, a minha mãe só me trouxe o leitinho à cama para uns dias depois o poder cumprimentar. Mas sabe João, hoje tenho uns amigos em casa. E são “daqueles”, `tá a ver? “Daqueles”. São os Tool e tocam daqui a uma hora. No outro lado da cidade. Não o ignoro, João. Mas eles dão-me tesão. A sua barba é interessante. O pulso é forte. Mas eles dão-me tesão. João, você fica bem acompanhado. O Gonzalo, esse cubano charmoso, acompanha-o e mesmo as moças da promotora são suficientemente atraentes para você esquecer e minha figura cilíndrica, mas disponível. É que `tou cheio de tesão e você sabe como é! Nada visivelmente palpável cresce em mim. Mas é uma tesão furibunda quando não saciada. Não controlo. É como as gripes, ou a exagerada masturbação dos tipos do jazz, ou o mau gosto do jamaicano. Não controlo, ponto. E é que os quatro rapazes querem apresentar-me outros «10,000» dias para que possamos continuar a tremer. É uma tesão irracional só explicada quando aqueles quatro tipos começarem a tocar no Atlântico e sentir esse choque exotérico de alguém me sugar sem ficar friccionado…