A arte de bem receber…
…é, quiçá, um dos últimos conceitos que o déspota escriba mais tem perseguido. Não na concretização do termo pelas próprias acções, mas na apreciação da sua eficiência em vários palcos. O caso vigente prende-se, tão somente, com a capacidade de abrir a porta de casa e deixar flutuar as escolhas de quem entra nela.
Receber é um dom de poucos. Todos podem receber. Só alguns podem satisfazer. Todos podem convidar. Poucos, muito poucos, sabem apresentar o convite. Uma coisa é dizer «entra, a sala é ali?». Pimbas! Já estamos a delimitar o espaço de acção. Outra coisa será, porventura, indicar «entra, já te mostro a casa». E se não mostrar? É uma simpatia de circunstância, que rapidamente se tornará inerte no…sofá da sala.
Convidar não é um impor uma norma, no entanto, e ao mesmo tempo, o indivíduo “invasor” já entra num espaço estruturado por quem convida. Lógicas caseiras, portanto.
Um dos preceitos fundamentais de quem recebe, e bem de preferência, passa, necessariamente, pela escolha criteriosa do som ambiente. Da qualidade de vida implícita nas ondas sonoras. Seja no caso de ambiente de festa com a casa cheia, num engate brujeço entre casais semi-assumidos em qualquer coisa, ou num ambiente a dois salpicado com frases feitas, tremendamente de mau-gosto, extraídas de filmes de classe Y.
Mas também é necessário escolher som para receber um amigo. Ou mesmo para receber alguém incógnito. E neste particular a tarefa de escolher um som “liso” torna-se um exercício de estilo para o melómano mais empedernido. «Um soft-jazz armado ao pingarelho? Um João Gilberto irritante para quem nunca gostou de brasileiros? Um disco ao acaso de uma qualquer colectânea da Trojan para uma pessoa que sempre se indignou com o fenómeno reggae? Uns momentos da Stax para um pé-de-chumbo destroçado com as suas incapacidades bailantes? O que escolher?».
Optar pelas frequências do acid-jazz, ou de Gilles Peterson, em picardias com os Jazzanova ou em revelações entre Trio Mocotó ou Nara Leão, tudo isto soa a golpe baixo pela facilidade do resultado. Não há piano excessivo em solos diletantes. Não há cornetas no ar a zumbir no ouvido mais enfraquecido. E, no fundo, há uma folia contida que se dança no sofá. Há uma estupidificante relação com a cena «cool» e tudo o que se pode degustar entre um queijo beirão e um vinho alentejano.
Pior e mais hipócrita de todos estes argumentos da arte de bem receber revela-se naquela altura em que, espojados no sofá, indicamos delicadamente ao conviva forasteiro para trocar de disco e «escolhe tu, vá!». Mas que escolha? A nossa claro está! Aquela que está previamente definida e apresentada numa estante mais ou menos apetrechada. É a tirania da arte de quem recebe…
Receber é um dom de poucos. Todos podem receber. Só alguns podem satisfazer. Todos podem convidar. Poucos, muito poucos, sabem apresentar o convite. Uma coisa é dizer «entra, a sala é ali?». Pimbas! Já estamos a delimitar o espaço de acção. Outra coisa será, porventura, indicar «entra, já te mostro a casa». E se não mostrar? É uma simpatia de circunstância, que rapidamente se tornará inerte no…sofá da sala.
Convidar não é um impor uma norma, no entanto, e ao mesmo tempo, o indivíduo “invasor” já entra num espaço estruturado por quem convida. Lógicas caseiras, portanto.
Um dos preceitos fundamentais de quem recebe, e bem de preferência, passa, necessariamente, pela escolha criteriosa do som ambiente. Da qualidade de vida implícita nas ondas sonoras. Seja no caso de ambiente de festa com a casa cheia, num engate brujeço entre casais semi-assumidos em qualquer coisa, ou num ambiente a dois salpicado com frases feitas, tremendamente de mau-gosto, extraídas de filmes de classe Y.
Mas também é necessário escolher som para receber um amigo. Ou mesmo para receber alguém incógnito. E neste particular a tarefa de escolher um som “liso” torna-se um exercício de estilo para o melómano mais empedernido. «Um soft-jazz armado ao pingarelho? Um João Gilberto irritante para quem nunca gostou de brasileiros? Um disco ao acaso de uma qualquer colectânea da Trojan para uma pessoa que sempre se indignou com o fenómeno reggae? Uns momentos da Stax para um pé-de-chumbo destroçado com as suas incapacidades bailantes? O que escolher?».
Optar pelas frequências do acid-jazz, ou de Gilles Peterson, em picardias com os Jazzanova ou em revelações entre Trio Mocotó ou Nara Leão, tudo isto soa a golpe baixo pela facilidade do resultado. Não há piano excessivo em solos diletantes. Não há cornetas no ar a zumbir no ouvido mais enfraquecido. E, no fundo, há uma folia contida que se dança no sofá. Há uma estupidificante relação com a cena «cool» e tudo o que se pode degustar entre um queijo beirão e um vinho alentejano.
Pior e mais hipócrita de todos estes argumentos da arte de bem receber revela-se naquela altura em que, espojados no sofá, indicamos delicadamente ao conviva forasteiro para trocar de disco e «escolhe tu, vá!». Mas que escolha? A nossa claro está! Aquela que está previamente definida e apresentada numa estante mais ou menos apetrechada. É a tirania da arte de quem recebe…