Duas Coisas Muito Importantes

Na era da imagem. Sem imagens. Só palavras de duplo sentido. Que desenham qualquer coisa...

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Friday, October 24, 2008

Um pilantra prá machucar os corações…

… é a vida e obra de Wilson Simonal. Um preto a caminhar para o meio feio e meio quase bonito. Charmoso debochado. Detentor de uma voz assombrosa. Burro por opção. Desligado socialmente por coolness. E tudo o que quer chegar a cool sem o ser....

«Simonal: Ninguém sabe o duro que dei» constitui um retrato largo sobre o primeiro enterteiner do imenso Brasil. Um personagem popular que intercalava cantoria, apresentação em TV, polémica barata, ostentação pública e algumas mulheres à mistura. Tudo isto em alta, quando podia desfrutar da sua voz em praça pública. Misturava o seu registo «pilantra» para machucar uns corações com uma apresentação irrepreensível de "The shadow of your smile", dividindo o palco com a soberba Sarah Vaughan.

O documentário feito em sua honra, muito bem estruturado, com fio condutor, numa linha documental que o Brasil nos habituou (o doc sobre Vinicius é de outro campeonato), tem por objectivo esclarecer a história estranha de uma queda meteórica de tamanha figura pública. Num dia comandava a TV Record, no dia seguinte estava envolvido em «chibarias» para a PIDE brasileira da altura (DOPS). Qual a verdade?

O contexto social do Brasil era perigoso para os que não pensavam. Como todos os países com sintomas de “tontaria” generalizada (a malta com pouco dinheiro, emprego escasso, ditadura vai, revolução vem), o Brasil vivia repreendido dentro de portas. Os Tropicalistas eram presos por contestar com o seu cabelo comprido. A bossa-nova já não importava garrafas de whiskey. Fazia melhor. Foi viver para onde ele era feito (Europa e EUA). Os poetas eram calados ou deportados. Pensadores estavam gastos. E variedade política era coisa que não tinha muita saída.

O conceito “engajamento” tinha, então, muito poder. Ou se era de um lado ou se era do outro. Não dava para malta que caminha em cima do muro. Que se faz passar por desligado numa tentativa de preguiça intelectual. Simona era isso. Um tipo a assobiar para o ar, a viver dos rendimentos. Gozando com tudo e todos. O Maracanãzinho tinha cantado com mais de 30 mil gargantas. E o que aquele preto gingão queria era dar baile a tudo e todos. Brincava ao black power de algibeira mas queria era saber de quanto é que lhe tocava no final de cada espectáculo. O normal, dirão uns tantos. Mas talvez de pouca visão ao fundo do túnel, dirão....eu.

O desfile de alguns protagonistas deste documentário também não é esclarecedor. O falecido Chico Anisio é do sim. Bem como Toni Tornado. Ambos a favor dessa…ingenuidade. Nelson Motta, pouco dado a “bobeira” do povo, não gostou muito. Bem como toda a malta do Pasquim. O lado menos a favor desse…”desligamento”…era uma coisa que traduzida para português de Alfama daria «chico-esperto».

A malta gosta de gente…”desligada”. De gente que não se leva a sério. Mas não gosta muito é de burrice e oportunismo barato. E tudo bem quando um tipo é meio cabeça no ar e tal, e um gajo muita maluco e coiso, mas não sejas tão espertinho na hora do “stand up and fight”. O que nos resta de Wilson Simonal, além de uma grande voz e toda aquela “pilantragem”, são dois filhos muito talentosos. Simoninha e Max de Castro. Destaque para este último. Pertinente, rasga com o passado…e o que malta gosta é de gajos que rasgam

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