50 anos esticados…
…dão direito a comemorações de todas as formas e feitios. A bossa-nova atinge a marca bonita de meio século. Houve uns que se transferiram para outros apartamentos junto a outros mares. Outros ficaram e suspiram por todas as garotas, amores, sorrisos e flores. Como um congelamento catatónico de cara rasgada de saudade e mão no peito perante a aflição dos novos tempos.
Para um apreciador mid-tempo como este que aqui despeja boçalidades, a bossa representa apenas, e tão só, um dos grandes momentos das músicas do nosso tempo. Atrás, só Bach. Adiante, só o amanhã. Sem qualquer suspiro de saudade, a bossa existe como um momento de procura. De busca. De “digga”. De topar onde é que as mãos de João Gilberto viraram a coisa. Quando é que Villa-Lobos entrou no piano de Jobim. E contar as mulheres de Vinicius para identificar na sua poesia mais uma “safadeza” que se possa citar às 03h00 da manhã numa roda de conversa…
«Canção do Amor Demais» é um título totalmente bossa-nova. Ali já tudo era exagerado. O amor era angustiante. Já era demais. O mar era pacificador. E a poesia corria solta. Elizete Cardoso nem era musa de nada, mas teve a sorte de servir de inspirados deuses musicais. Em 1958, «Chega de Saudade» apresentava uma cantora. Um arranjo e orquestrador sofisticadíssimo (Jobim). Poema do corpo político (Vinicius). E uma viola tocada de forma…bizarra (João Gilberto).
O mesmo registo é procurado todos os dias na net. Em vinil, sempre. Até que agora já circula em CD. Com os estalinhos da agulha a gingar por cima do prato preto. O som está lá todo. E chegamos ao fim do disco com o mesmo sentimento de um arqueólogo que encontra, finalmente, a primeira peça que tanto procurava de um enorme esquema soterrado.
A amabilidade não tem hora, e da mesma forma embaraçosa com que recebi a oferta de «Canção de Amor Demais», desboquei-me e fugi para o presente (será futuro?). Um fast forward de 50 anos e encavalitado na história da música popular brasileira chega-me «Onde Brilham os Olhos Seus», de Fernanda Takai (a menina-voz dos Pato Fu). De Fernanda Takai? Ou de Nara Leão (quem?)? Ou de Nelson Motta (não entendo…)?
O produtor-jornalista-o-maior Nelson Motta conheceu Fernanda Takai. Lembrou-se de Nara Leão. O coração carioquinha de Nelsinho sonhou e concretizou. Revisão actualizada e sofisticada da obra de Nara Leão feita pela qualidade “marginal” de Takai (e John Ulhoa, também dos Pato Fu).
Na viragem para os anos 60, a bossa-nova era um “estado de espírito”, como Ronaldo Bôscoli definiu, e Nara Leão rebentava com diques separadores criando, talvez, um primeiro momento conciliador da MPB, ainda o tropicalismo não tinha saído de Santo Amaro. Foi nessa conjectura que surgiram estas canções com muita idade. De tipos do samba, brotinhos, bogie woogie, tropicalistas, nordestinos, bossa-novistas. Todos juntos naquele indecisão imensa de Nara Leão.
Takai resolveu tudo com ferramentas pop. De agora. Das palminhas às caixinhas de ritmo. Dos sintetizadores aos refrões para cima. Voltou a misturar tudo. Como no momento inaugural da primeira marcha de Carnaval escrita por um combo preto e branco. Já as raças se cruzavam no início do século passado. Já o Brasil era transversal ainda se discutia raças na América do Norte…
Fernanda Takai aproveita toda a mistura e possibilidade e faz um exercício de andragogia. Derrota dogmas. Estabelece novos padrões destabilizando os formatos. Faz uso da sua linguagem contemporânea ao profanar o passado. E faz tudo com uma simplicidade e verdade desarmante. «Vai meu coração ouve a razão usa só sinceridade»…
Para um apreciador mid-tempo como este que aqui despeja boçalidades, a bossa representa apenas, e tão só, um dos grandes momentos das músicas do nosso tempo. Atrás, só Bach. Adiante, só o amanhã. Sem qualquer suspiro de saudade, a bossa existe como um momento de procura. De busca. De “digga”. De topar onde é que as mãos de João Gilberto viraram a coisa. Quando é que Villa-Lobos entrou no piano de Jobim. E contar as mulheres de Vinicius para identificar na sua poesia mais uma “safadeza” que se possa citar às 03h00 da manhã numa roda de conversa…
«Canção do Amor Demais» é um título totalmente bossa-nova. Ali já tudo era exagerado. O amor era angustiante. Já era demais. O mar era pacificador. E a poesia corria solta. Elizete Cardoso nem era musa de nada, mas teve a sorte de servir de inspirados deuses musicais. Em 1958, «Chega de Saudade» apresentava uma cantora. Um arranjo e orquestrador sofisticadíssimo (Jobim). Poema do corpo político (Vinicius). E uma viola tocada de forma…bizarra (João Gilberto).
O mesmo registo é procurado todos os dias na net. Em vinil, sempre. Até que agora já circula em CD. Com os estalinhos da agulha a gingar por cima do prato preto. O som está lá todo. E chegamos ao fim do disco com o mesmo sentimento de um arqueólogo que encontra, finalmente, a primeira peça que tanto procurava de um enorme esquema soterrado.
A amabilidade não tem hora, e da mesma forma embaraçosa com que recebi a oferta de «Canção de Amor Demais», desboquei-me e fugi para o presente (será futuro?). Um fast forward de 50 anos e encavalitado na história da música popular brasileira chega-me «Onde Brilham os Olhos Seus», de Fernanda Takai (a menina-voz dos Pato Fu). De Fernanda Takai? Ou de Nara Leão (quem?)? Ou de Nelson Motta (não entendo…)?
O produtor-jornalista-o-maior Nelson Motta conheceu Fernanda Takai. Lembrou-se de Nara Leão. O coração carioquinha de Nelsinho sonhou e concretizou. Revisão actualizada e sofisticada da obra de Nara Leão feita pela qualidade “marginal” de Takai (e John Ulhoa, também dos Pato Fu).
Na viragem para os anos 60, a bossa-nova era um “estado de espírito”, como Ronaldo Bôscoli definiu, e Nara Leão rebentava com diques separadores criando, talvez, um primeiro momento conciliador da MPB, ainda o tropicalismo não tinha saído de Santo Amaro. Foi nessa conjectura que surgiram estas canções com muita idade. De tipos do samba, brotinhos, bogie woogie, tropicalistas, nordestinos, bossa-novistas. Todos juntos naquele indecisão imensa de Nara Leão.
Takai resolveu tudo com ferramentas pop. De agora. Das palminhas às caixinhas de ritmo. Dos sintetizadores aos refrões para cima. Voltou a misturar tudo. Como no momento inaugural da primeira marcha de Carnaval escrita por um combo preto e branco. Já as raças se cruzavam no início do século passado. Já o Brasil era transversal ainda se discutia raças na América do Norte…
Fernanda Takai aproveita toda a mistura e possibilidade e faz um exercício de andragogia. Derrota dogmas. Estabelece novos padrões destabilizando os formatos. Faz uso da sua linguagem contemporânea ao profanar o passado. E faz tudo com uma simplicidade e verdade desarmante. «Vai meu coração ouve a razão usa só sinceridade»…
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