O cinema de/e/para o povo…
…é toda a dúvida/mote que insurge após o visionamento «Kuxa Kanema: O Nascimento do Cinema». Mas é igualmente residual o que nos ficou na memória do esmagador «Aquele Querido Mês de Agosto», longa-metragem de Miguel Gomes. É para o povo? É do povo? É para que povo? Quem é o povo que o faz? Mas que povo é este?
Os propósitos de um documentário assume uma elasticidade estética que todo e qualquer assunto, tema, pormenor, data, detalhe e outros tantos, podem ser o arranque definitivo para a genialidade de um documentário.
O levantamento histórico de Margarida Cardoso (coordenadora de Kuxa Kanema) é de uma emergência óbvia e conseguida. Investigação, cuidado, interesse, reprodução fiel sem intervenção intelectual, algum distanciamento político necessário. Tudo num só documentário em que o ponto de partida é 25 de Junho de 1975, dia em que Samora Machel proclamou a independência da República Popular de Moçambique. Segundo momento histórico: inauguração do Instituto Nacional de Cinema. Propósitos? Propaganda política, com a roupagem de entrega do cinema ao povo. Do povo e para o povo. Cópia integral do maniqueismo que vinha do lado leste da Europa. Tudo muito engraçado e lírico, mas ….(ao jeito de Marcelo Rebelo de Sousa) ….«não era propaganda, mas propagandeava» o regime popular que se instalava em Moçambas.
A opção transversal com o filme de Miguel Gomes revela-se precisamente no acto do cinema do povo para o povo. Da propaganda de algo sem erguer nenhum cartaz. A afirmação de um outro Portugal, que Miguel Gomes puxa para a frente da história, quase como uma imposição política ao intelectualismo do cinema marginal sempre em voga (e tão irritante!!!). O que começa por ser um documentário mal conseguido tem o intuito valente e bem conseguido de seduzir para uma ficção estruturada e com objectivos artísticos. Não políticos. Talvez. Talvez…
No interior de Portugal há um outro Portugal. Há um outro povo que não o do DocLisboa, esse que procura o exótico, o excêntrico, mesmo que serôdio, que, por vezes, não se desvia de uma risada perante a ignorância alheia. É muito confortável a risada alheia.
Mas quer o Miguel Gomes, a Margarida Cardoso, a Leni Riefenstahl, e outros tantos dedicados à arte de eternizar coisas, todos eles queriam documentar algo. E ninguém é inocente. Não há esse regresso a essa inocência infantil. O Miguel Gomes até veio do interior, mas o que lhe iria no subtexto de toda aquela crueza da primeira metade do filme? Queria livrar-se de algum passado ou rir-se do mesmo? A Margarida Cardoso tem ar de ratinho de laboratório, mas o que lhe vai na alma da memória que tanto quereria recuperar com este exorcismo de um passado sempre saudoso? Às vezes nem tanto é para o povo…
Os propósitos de um documentário assume uma elasticidade estética que todo e qualquer assunto, tema, pormenor, data, detalhe e outros tantos, podem ser o arranque definitivo para a genialidade de um documentário.
O levantamento histórico de Margarida Cardoso (coordenadora de Kuxa Kanema) é de uma emergência óbvia e conseguida. Investigação, cuidado, interesse, reprodução fiel sem intervenção intelectual, algum distanciamento político necessário. Tudo num só documentário em que o ponto de partida é 25 de Junho de 1975, dia em que Samora Machel proclamou a independência da República Popular de Moçambique. Segundo momento histórico: inauguração do Instituto Nacional de Cinema. Propósitos? Propaganda política, com a roupagem de entrega do cinema ao povo. Do povo e para o povo. Cópia integral do maniqueismo que vinha do lado leste da Europa. Tudo muito engraçado e lírico, mas ….(ao jeito de Marcelo Rebelo de Sousa) ….«não era propaganda, mas propagandeava» o regime popular que se instalava em Moçambas.
A opção transversal com o filme de Miguel Gomes revela-se precisamente no acto do cinema do povo para o povo. Da propaganda de algo sem erguer nenhum cartaz. A afirmação de um outro Portugal, que Miguel Gomes puxa para a frente da história, quase como uma imposição política ao intelectualismo do cinema marginal sempre em voga (e tão irritante!!!). O que começa por ser um documentário mal conseguido tem o intuito valente e bem conseguido de seduzir para uma ficção estruturada e com objectivos artísticos. Não políticos. Talvez. Talvez…
No interior de Portugal há um outro Portugal. Há um outro povo que não o do DocLisboa, esse que procura o exótico, o excêntrico, mesmo que serôdio, que, por vezes, não se desvia de uma risada perante a ignorância alheia. É muito confortável a risada alheia.
Mas quer o Miguel Gomes, a Margarida Cardoso, a Leni Riefenstahl, e outros tantos dedicados à arte de eternizar coisas, todos eles queriam documentar algo. E ninguém é inocente. Não há esse regresso a essa inocência infantil. O Miguel Gomes até veio do interior, mas o que lhe iria no subtexto de toda aquela crueza da primeira metade do filme? Queria livrar-se de algum passado ou rir-se do mesmo? A Margarida Cardoso tem ar de ratinho de laboratório, mas o que lhe vai na alma da memória que tanto quereria recuperar com este exorcismo de um passado sempre saudoso? Às vezes nem tanto é para o povo…
2 Comments:
o documentário era bom e eu não adormeci :D
( Desculpa não sei porque não consegui escrever no teu ultimo post, ao fim de duas tentaivas desisti... )
Ah pois foi!!!
Mas levaste duas arrochadas nas costas para "espertares"!!!
Beijinho e obrigado!!
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