Duas Coisas Muito Importantes

Na era da imagem. Sem imagens. Só palavras de duplo sentido. Que desenham qualquer coisa...

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Location: Lisboa, Olissipo, Portugal

Wednesday, October 08, 2008

Os batrákis que sonharam…

…e que tão bem cantei na noite de Atenas. Noite de solidão (ó tragédia) no meio de tanta maralha boémia. Um palco. Uma MTV em lançamento. Umas horas de voo tramadas. Um calor estranho para Outubro. Uma linguagem na rua que nada tem a ver com o latim mediterrânico. Umas esplanadas memoráveis. Uma mesa bem vestida aos olhos da gula.

Estava ali um artista tuguês no palco de uma zona cool da cidade grega e batia-me na nuca a memória de como se sonhou na adolescência. Os calduços espicaçaram a memória de quem brinca às bandas em tenra idade. De quem julga que o uso do inglês aproxima aos ídolos recalcados. «Ah não, esta música não é nada parecida com os Mudhoney…nada disso…Touch in the brick nada tem a ver com Mudhoney», responderia prontamente o envergonhado larápio de melodias fáceis e guitarra ao colo.

Num rewind/fast forward de segundos, ia e vinha aos 17 anos de idade. Quando o inglês escrito na folha de papel era tão miserável quanto as ladainhas vomitadas por qualquer cantor ligeiro. Tony de Matos daria um bigode valente só com uma estrofe…

Naquela altura sonhava-se em português. Falava-se em português. Engatava-se em português. Riamos em português. Escrevíamos em português. Talvez mal, mas escrevíamos. Update não era usado como agora o é pela senhora da limpeza. Reboot não era coisa que se dissesse a uma menina. Rewind era uma palavra que constava nos botões do rádio que lia k7s. Boy não era chamamento para nada a não ser para brincar com o trocadilho com o macho bovino. Enfim, pique-nique ainda era um francesismo e o inglês não estava tão dentro da nossa língua como acontece nos dias de hoje.

Mais de uma década depois, damos por nós numa roda animada a debitar inglesismos. A citar séries inglesas. A brincar com trocadilhos ingleses. A reconhecer cultura em inglês (post, new, trend setter, etc). Hoje metemos 30% de inglesismos numa hora sem dar por ela. Ele está aí.

Ao lado do palco de Atenas pensava nisso. Agora sim, rapaz que assobias no palco, estás confortável neste papel. Não tens ninguém a resmungar contigo a dizer que deverias meter uns adufes nesta ou naquela malha. Ninguém acha que uma voz aguda vinda do Minho daria qualquer toque de diferença a uma canção pop, que mais se assemelha a uma coisa de Toronto do que a Vila Nova de Cerveira. Agora sim, little boy, tens que trabalhar para dar a curva a este monte. Já atingiste o pico. Agora és um “deles”. Dos globalizados. A guerra é outra. Godspeed…

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