Amor é lá no tanque…
…brincou uma das pastoras da Velha Guarda da Portela. Do alto da sua sapiência de rua de um metro e cinquenta e dois, escrita nas linhas direitas das rugas vincadas, aquela senhora estraçalhava os corações mais molengas, enternecidos de ver tantas histórias de amor cantadas em samba.
«O Mistério do Samba» é um documentário assinado por Carolina Jabor e Lula Buarque de Hollanda. A coordenação, ideia de tudo aquilo e outros pozinhos de prilim-pim-pim chegaram através das mãos esticadas de Marisa Monte (tipo…«what else?»). E o festival docLisboa trouxe para a malta encalorar-se numa noite de Outubro ali para os lados do cinema São Jorge.
O período pós «Buena Vista Social Club» tem os efeitos nefastos de que todo e qualquer recolha feita junto de músicos e musicas antigas sejam objecto de comparação. A película de Wim Wenders, porém, atinge mais o propósito de um filme. Tem ali uma trama. Uma chegada. Um fim.
O filme carioca é outra coisa. Fixa-se no registo das mãos. Dos rostos. Das danças ténues. As falhas de dentes. Dos olhares fixos. Das linhas de rugas a desenharem autênticas gares de muitas linhas de chegadas e partidas. Faz também a recolha tradicional nestas andaças. Apresenta k7s empoeiradas. Velhas histórias de como tudo começa. De como uma cuica precisa de umas gotas de cerveja para furar o instrumento. E documentário assume, também, o silêncio. O sujo. O copo que é entornado por uma dança mal calculada.
O samba da Velha Guarda da Portela é feito de tudo isso que todos sabemos. Ou julgamos saber. Ou damos como certo. Que o amor já está cantado. Que tudo soa igual a tudo. E no desenrolar de cada tema, lá levamos com mais uma estrofe malvada, que rodopia na nuca durante os segundos suficientes para deixar levar com outra máxima na pinha.
E os sambas dividem-se por três grandes temáticas. Assim por maior e com toda a preguiça de quem observa. Ou estamos no domínio da saudade, facto que muito irrita, chegando a haver momentos em que apetece abater todos os que suspiram pelos “tempos que já foram”, só para acabar com tanto arfar. A conquista é a temática que se segue. Cortejar, espicaçar, avaliar, tudo em prol de um amor eterno enquanto dure. Por último, todos os ingredientes que uma música de dor-de-corno deve ter. Aliás, uma lenga-lenga que leva até a aceitar o regresso do malfeitor da relação a dois, que deixou alguém para trás. Eles que venham, desde que seja com vontade.
Talvez por isso, aquela pastorinha idosa da Velha Guarda da Portela tenha entendido que na sua alegre vida o amor era uma «coisa delas». Dessas que andam aí na rua a disputar homens. Para aquela pastorinha, o amor é lá no tanque a lavar roupa…
«O Mistério do Samba» é um documentário assinado por Carolina Jabor e Lula Buarque de Hollanda. A coordenação, ideia de tudo aquilo e outros pozinhos de prilim-pim-pim chegaram através das mãos esticadas de Marisa Monte (tipo…«what else?»). E o festival docLisboa trouxe para a malta encalorar-se numa noite de Outubro ali para os lados do cinema São Jorge.
O período pós «Buena Vista Social Club» tem os efeitos nefastos de que todo e qualquer recolha feita junto de músicos e musicas antigas sejam objecto de comparação. A película de Wim Wenders, porém, atinge mais o propósito de um filme. Tem ali uma trama. Uma chegada. Um fim.
O filme carioca é outra coisa. Fixa-se no registo das mãos. Dos rostos. Das danças ténues. As falhas de dentes. Dos olhares fixos. Das linhas de rugas a desenharem autênticas gares de muitas linhas de chegadas e partidas. Faz também a recolha tradicional nestas andaças. Apresenta k7s empoeiradas. Velhas histórias de como tudo começa. De como uma cuica precisa de umas gotas de cerveja para furar o instrumento. E documentário assume, também, o silêncio. O sujo. O copo que é entornado por uma dança mal calculada.
O samba da Velha Guarda da Portela é feito de tudo isso que todos sabemos. Ou julgamos saber. Ou damos como certo. Que o amor já está cantado. Que tudo soa igual a tudo. E no desenrolar de cada tema, lá levamos com mais uma estrofe malvada, que rodopia na nuca durante os segundos suficientes para deixar levar com outra máxima na pinha.
E os sambas dividem-se por três grandes temáticas. Assim por maior e com toda a preguiça de quem observa. Ou estamos no domínio da saudade, facto que muito irrita, chegando a haver momentos em que apetece abater todos os que suspiram pelos “tempos que já foram”, só para acabar com tanto arfar. A conquista é a temática que se segue. Cortejar, espicaçar, avaliar, tudo em prol de um amor eterno enquanto dure. Por último, todos os ingredientes que uma música de dor-de-corno deve ter. Aliás, uma lenga-lenga que leva até a aceitar o regresso do malfeitor da relação a dois, que deixou alguém para trás. Eles que venham, desde que seja com vontade.
Talvez por isso, aquela pastorinha idosa da Velha Guarda da Portela tenha entendido que na sua alegre vida o amor era uma «coisa delas». Dessas que andam aí na rua a disputar homens. Para aquela pastorinha, o amor é lá no tanque a lavar roupa…
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