Duas Coisas Muito Importantes

Na era da imagem. Sem imagens. Só palavras de duplo sentido. Que desenham qualquer coisa...

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Location: Lisboa, Olissipo, Portugal

Friday, July 04, 2008

Como legitimar o erro . . .

… tem sido uma das experiências particulares de quem vos escreve. As formas sociais da “desculpa” ou “inevitabilidade” estão socialmente aprovadas, pese embora, haja quem se importune por, e tomando como exemplo, a classe política não pagar pelos seus erros. Acaba o mandato e outros pagarão por erros calculáveis. Basta espreitar relatórios, orçamentos e celebrar o porreirismo da coisa. Aquele patati-patatá de quem faz a revolução sentado…

Na música, particular do agrado deste mecânico das palavras, a coisa dá-se da mais variada forma. Longe vão os tempos de insuficiência vocal. Dos grandes cantores. Dos artistas de big band. Os nossos Tony de Matos. Os Calvários e Sinatras da vida. As grandes vozes. Agora, mais de 50 anos depois desse boom de voz-de-macho-e-cabeça-de-mulher, o que se pede é gente afinada. Pelo menos ao vivo…Agora se a voz cantada da rua se ouve no oitavo andar, isso é….balelas….marimbando…

A multiplicação de géneros e sub-categorias musicais encontrou outros espaços confortáveis para as “não-vozes”. Tomando como exemplo o hip-hop. A rítmica é a sua musicalidade. Não há que enganar. Dificilmente está fora de tom e caso esteja fora de ritmo, assunto arrumado, sempre pode mexer com a mesa de som, aprumar o seu lado b-boy ou arriscar com uma lata de spray…Dedique-se a outra arte que não a do “máique”…

O grosso do hip-hop legitimou o erro quando se tornou mainstream. Não que o hip-hop seja um erro. De todo. Ninguém, todavia, teve mais que ter uma voz de rouxinol, muito menos de galã latino à procura do travesti mais próximo, para poder singrar no mundo da canção. Ninguém canta. Aqui, ou bailam todos ou não baila ninguém. Todos aspiram ao palco, seja em que moldes for. Basta ritmo e uma língua treinada. “Não cante e encante”, podia ser o slogan.

Portugal, no seu nichozinho, no seu atrasozinho, no seu semi-cosmopolitismozinho, também já dá espaço ao erro. Vide o caso de rappers com deficiência na fala. Com espinhas de massa mais ou menos evidentes. Com pronuncias de várias regiões que tanto se reinventam em Gaia como em Olhão. Tanto vale um “b” por um “v”, como “unxolhos” por “uns olhos”. Tanto vale ter “um amor adim” como “um amor assim”. Vale tudo. E não me parece que vá mudar (será necessário? Ou partimos para as antigas aulas de voz?).

A expectativa dirige-se para ver se alguém pegará na coisa. De forma crítica. Ácida. Ressabiadíssima. Assim cheio de certezas. Quem se lembrará de corrigir a rua? De repreender o instinto. De censurar as idiossincrasias. De corrigir o erro, sendo que é no erro que se encontra a diferença. E nos “entretantos” lá nos divertimos a descobrir as imperfeições vocais de Cidinho e Doca, na banda-sonora da «Tropa de Elite» (a falta de dentes à frente tem destas coisas…). Ou mesmo quando Jorge Ben Jor cantava “eu olho prá voxê…pois voxê prá mim não olha”…Haveria algum mal?...Na rua erra-se….mas não é na rua que está o poder?...”Não se passa nada”….

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