Duas Coisas Muito Importantes

Na era da imagem. Sem imagens. Só palavras de duplo sentido. Que desenham qualquer coisa...

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Location: Lisboa, Olissipo, Portugal

Wednesday, January 16, 2008

O amor violento ao Rio…

…é uma experiência violenta. Violência redundante. Violência em todos os poros da Cidade Maravilhosa. Violência presente a partir do momento em que se sente a violenta humidade de 85% e 39 graus. A violenta forma de conduzir, sempre no limite. O som sempre intenso. Violento até na hora de festejar uma mera passagem de ano. Violento até na hora do silêncio macabro de uma cidade sempre viva.

O Rio é violento nas cores. Nos morros. No azul térreo e aéreo. É veemente quando troveja. É violento quando enamora prédios de 15 andares com montes violentamente cortados pela natureza, num espectáculo entre o acidental e humano.

O Rio vive violentamente na praia. Os corpos são violentos. Pinturas de corpo violentas. O futebol é violentamente degustado a todo e qualquer instante. A violência de uma beleza trabalhada em ginásio ladeada pela violência dos corpos escolhidos pela natureza para revelar ao mundo o quão belo é o físico. O Rio chega a ser uma experiência tão física que dizima o interior.

O Rio não vive para o interior. É violentamente exteriorizado. É violentamente festivo. Colorido. Díspar. Diverso. O Rio é rico. Violentamente rico em pobreza e friamente farto em riqueza. Violentamente próximo da Arca de Noé entre pobres, ricos, corpos perfeitos, imperfeições físicas assumidas, morros, cimento, água de coco, açaí, chopp, esgotos, favelas e condomínios fechados. No Rio, uns dormem com a almofada em forma de paralelo da calçada e outros blindam carros. Todos o assumem violentamente orgulhosos.

O Rio é violento quando se torna amável. Violentamente afável quando recebe dentro de casa o que é estranho. No fundo, nada se estranha no Rio. A violência assim o permite. É proibido proibir. O Rio desmultiplica-se facilmente tornando a soma uma violenta conjugação de tudo o que a hipoderme, o encéfalo e o terceiro olho nunca sonharam congregar.

O talento artístico do Rio é proporcionalmente violento quanto o perigo do esbatimento desse mesmo talento através de catástrofes humanas. Os violentos acidentes entre progressistas e pivetes. Entre o roubo fácil e intelectualidade corrupta. Entre o ensino da pesca e a oferta do peixe. Entre o aaargh e uuuiiii.

No Rio, o silêncio entre visitantes pode ser o caminho vertiginoso para a violência da descoberta. Das respirações cariocas. Dos botecos violentamente saborosos. Da gíria debitada de forma violenta, num misto de afirmação complexa e complexada. No Rio, a violência é palpável mesmo quando não se chega a ser publicamente violentado. Mesmo quando o assalto é exclusivo da mente e não dos bolsos. O substantivo feminino violência passa a ser forma de vida. Forma de estar. Defeito e feitio.

O Rio não é para amantes. É para amar. No Rio não somos nada e somos um pouco de tudo. O Rio traduz-se em amor. Amor ao limite. O limite violento. A violência do amor

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