Carvalho e quatro homens…
…poderia ser o resultado do jogo Povoense-Oeiras do último domingo, não interessa a data. A coisa dá-se ao domingo e convém levar as últimas análises (check up clínico) para poder entrar nos campos de futebol das divisões distritais.
O colesterol não deve de estar nos valores normais. Tal facto pode traduzir uma fuga aos prazeres da vida. Revela que as patuscadas com amigos e/ou interessados têm sido evitadas. As molhangas devem ser ensopadas no pão que restou do jogo da semana passada.
A diabetes é como um crachá. Tem que ser orgulhosamente exibido ao cortador de bilhetes da entrada do campo. Álcool e podres vícios devem constar na ficha clínica de todo e qualquer potencial visitante aos espectáculos de domingo. E só então, só com estas entre muitas outras condições, é que o dono do bar instalado na berma do campo de futebol dá o sim para que o visitante possa comungar de tão prazerosa matiné.
Ora, no caso, um Povoense-Oeiras. Ali tudo faz sentido menos o futebol praticado em campo pelas duas sofridas equipas. Um espaço sintético como que pintado para induzir que ali, além de se dormir bem ao sol ou poder-se servir um pick-nick para a família, também se pode praticar futebol.
A coisa já não começa bem quando se procura um simples cafezinho para dar início ao espectáculo, enquanto espectador. Indecisão dos inquiridos («Quefé?...isso num sei»), incompreensão de quem está detrás do balcão e não percebe o movimento dos lábios. «Café», quando não dito com voz grossa e colocada, pode soar a espirro feminino. O bigode do homem do balcão não descola dos próprios ouvidos e só a separação silábica de «SAR-VE-JA» é que vai ao encontro do esperado pelo afável mastodonte atrás do balcão. Bom, à enésima tentativa, lá se bebeu café…
Depois, já com as equipas em campo ou lá o que é aquilo, a coisa funciona na perfeição. Vernáculos vociferados ao ritmo da respiração humana, cuspidelas arrancadas do profundo esófago, gargalhadas até à morte por asfixia, tudo na bermazinha do campo. Ali logo onde o cimento começa. Uma ternura.
A sorte milionária é quando um dos artistas, um dos enterteiners extra-futebol, coloca-se mesmo ao nosso lado. O momento ganha intimidade e tudo pode ser observado ao milímetro. O bigode, o decibel vocal, a cultura táctica. Ele não se chamava Carvalho, mas repetia o vernáculo com sonoridade semelhante como uma rajada de arma de alto calibre.
«Carvalho pá, é falta o Carvalho, filhe-duma-ganda-gruta…o que foi Carvalho? É falta adonde Carvalho? Ó Carvalho…vai mazé pó Carvalho ó boi preto do Carvalho», e por aí adiante numa afirmação do verdadeiro macho lusitano. Um raça pura.
Nisto, nos entretantos do silêncio do bigode quase rouco, ouve-se um guarda-redes inseguro: «quero quatro homens»…(seria para formar a barreira?)…
O colesterol não deve de estar nos valores normais. Tal facto pode traduzir uma fuga aos prazeres da vida. Revela que as patuscadas com amigos e/ou interessados têm sido evitadas. As molhangas devem ser ensopadas no pão que restou do jogo da semana passada.
A diabetes é como um crachá. Tem que ser orgulhosamente exibido ao cortador de bilhetes da entrada do campo. Álcool e podres vícios devem constar na ficha clínica de todo e qualquer potencial visitante aos espectáculos de domingo. E só então, só com estas entre muitas outras condições, é que o dono do bar instalado na berma do campo de futebol dá o sim para que o visitante possa comungar de tão prazerosa matiné.
Ora, no caso, um Povoense-Oeiras. Ali tudo faz sentido menos o futebol praticado em campo pelas duas sofridas equipas. Um espaço sintético como que pintado para induzir que ali, além de se dormir bem ao sol ou poder-se servir um pick-nick para a família, também se pode praticar futebol.
A coisa já não começa bem quando se procura um simples cafezinho para dar início ao espectáculo, enquanto espectador. Indecisão dos inquiridos («Quefé?...isso num sei»), incompreensão de quem está detrás do balcão e não percebe o movimento dos lábios. «Café», quando não dito com voz grossa e colocada, pode soar a espirro feminino. O bigode do homem do balcão não descola dos próprios ouvidos e só a separação silábica de «SAR-VE-JA» é que vai ao encontro do esperado pelo afável mastodonte atrás do balcão. Bom, à enésima tentativa, lá se bebeu café…
Depois, já com as equipas em campo ou lá o que é aquilo, a coisa funciona na perfeição. Vernáculos vociferados ao ritmo da respiração humana, cuspidelas arrancadas do profundo esófago, gargalhadas até à morte por asfixia, tudo na bermazinha do campo. Ali logo onde o cimento começa. Uma ternura.
A sorte milionária é quando um dos artistas, um dos enterteiners extra-futebol, coloca-se mesmo ao nosso lado. O momento ganha intimidade e tudo pode ser observado ao milímetro. O bigode, o decibel vocal, a cultura táctica. Ele não se chamava Carvalho, mas repetia o vernáculo com sonoridade semelhante como uma rajada de arma de alto calibre.
«Carvalho pá, é falta o Carvalho, filhe-duma-ganda-gruta…o que foi Carvalho? É falta adonde Carvalho? Ó Carvalho…vai mazé pó Carvalho ó boi preto do Carvalho», e por aí adiante numa afirmação do verdadeiro macho lusitano. Um raça pura.
Nisto, nos entretantos do silêncio do bigode quase rouco, ouve-se um guarda-redes inseguro: «quero quatro homens»…(seria para formar a barreira?)…
0 Comments:
Post a Comment
<< Home