Duas Coisas Muito Importantes

Na era da imagem. Sem imagens. Só palavras de duplo sentido. Que desenham qualquer coisa...

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Location: Lisboa, Olissipo, Portugal

Thursday, January 08, 2009

Ah Faduncho…

…não há portuguesinho nenhum que não tenha qualquer coisinha a dizer sobre fado. Ou porque o detesta. Ou porque o odeia. Ou porque o ama. Ou porque não o percebe. Ou porque atribuiu toda e qualquer característica lusitana ao fado. Ou porque amarra-se ao fado para explicar Portugal no geral e Universo em particular. O que é fado. O novo fado. O velho fado. O fado vadio. O fado de antecâmara. O fado dos grandes palcos. O fado do Faia. O fado da Mesa de Frades. O fado do Bacalhau de Molho. O fado fascista e tal.

Todos. Todos sabemos. Façam o teste. Saiam de casa e perguntem à primeira alma com sobrancelhas coladas, mulher de bigode, morena-next-door, puto do grafiti, um velho de boné e crachá de foice e martelo, ou mesmo ao charmoso vestido de preto e gravata roxa que, entre o gay e o metro, passeia o perfume caro pela calçada. Perguntem a qualquer destas almas o que é fado? Ui! Upa upa. É um rol de bestialidades teóricas que, entre o excêntrico e o precário, define o que é o fado. Sim. Qualquer resposta é mais do que válida. É isso que nos torna geniais. Capazes de fazer da nossa história um memorando de conquistas, sem nunca visar, que por exemplo em Moçambique já se fazia comércio com o Pérsico desde o século X. O que é que isso interessa? Fomos nós que chegámos lá, ocupámos e tal e agora aquilo seria da malta e siga a dança.

A história do fado também é feita por aí. Uns uivam que é de Coimbra. Outros que é do Cais do Sodré. Mas nunca originária de negreiros africanos que traziam tons menores nas suas cantigas. Isso nunca. Muito menos se identifica o regresso da corte portuguesa depois do exílio brasileiro. Ou por outros termos, os “avecs” meteram-nos “finos”, instalaram o Carnaval no Rio de Janeiro, e mandaram os tugas para casa, debaixo de um “chorinho” triste. Avançamos com a teoria dos trovadores de outrora que já faziam cantigas de escárnio e maldizer, e aí sim, começava o fado. Se eles tinham escutado mouros e seus prantos, isso não é prova concreta num qualquer tribunal musical. Nos dias que correm, felizmente, depois de muitas horas de psicanálise, já se considera exótico tudo ter começado numa puta. A Severa. Ele há nome mais castiço? Uma puta de nome Severa!!! Final do século XIX. Já a caminho do apocalipse. E logo ali, ainda respirava-se o início dos anos 1900 já o tugas andavam às turras com o que era fado. A Academia mandou vir com o pintor José Malhoa. Então o rapaz pintou o quadro «Fado» invocando uma puta, vinho e guitarra? O fado ainda era tão novinho e já ninguém se entendia quem era o pai. Sendo que com uma mãe puta, ó meus filhos…

No meio deste troca-troca de histórias inacabadas, sobressai a característica fundamental da alma lusa. A generosidade. Essa referência no traço da personalidade Viriata trouxe-me até casa «Fado – Sempre! Ontem, Hoje e Amanhã». Agradeço tão nobre obra. Tão excelso exercício de tentar explicar a história do improvável fado. A estética do livro é belíssima. São 4 discos com tantas coisas boas. Inúmeros itens. Muito texto. Tentativos de explicar a etimologia, numa generosidade explícita a cada página. Muito assunto prostrado no livro/disco. De Amália a Ana Moura. De Beatriz da Conceição, Carlos do Carmo e Carlos Paredes. De Carminho, Deolinda e Ricardo Ribeiro. Tanta história. Tanta alma alfacinha. Tão lisboeta que até doi. Eu, orgulhoso e feliz, condeno-me. Sei lá o que é o fado. Sei é que gosto…

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