Duas Coisas Muito Importantes

Na era da imagem. Sem imagens. Só palavras de duplo sentido. Que desenham qualquer coisa...

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Location: Lisboa, Olissipo, Portugal

Sunday, September 24, 2006

Ao que cheira a música?

Confesso que já é uma temática antiga a de rever no meu sub-consciente ao que cheira a música. As conclusões sobre a rugosidade de um vinil ou a forma dócil de uma edição especial de um CD poderão ficar para outras linhas. Por agora, o foco dirige-se ao olfacto. E confesso (já o tinha feito, mas reitero) que estas linhas já deveriam ter saído da arrecadação encefálica.

Comecemos pelas lojas de instrumentos musicais. «Depende», surgirá nas conclusões tão precipitadas como as suposições. Existem diversos aromas. Entre as lojas de música de centro comercial. As lojas isoladas e com um historial significativo. Existe o cheiro para as lojas mais dirigidas ao hi-tech. Ao sofisticado. À cultura djing. Existe a mais tradicional. Com baterias espampanantes e o aroma entre cave e as válvulas gastas dos amplificadores. O leve aroma a queimado também marcam presença no final do dia. E quem já esteve em oficinas de construção de instrumentos ainda deverá ter ficado mais deslumbrado entre a frescura da madeira e rezingado odor metálico das cordas e pick ups das guitarras eléctricas.

Assim como as garagens. Onde o suor liquidificado se mistura com ruídos madrugadores de guitarras untadas de impaciência técnica. Ali, a música fede. Não cheira. Fede. O ambiente duplamente «queimado» impera, para bem de todos…

E volto a confessar (sim, repetidamente) que foi numa loja próxima da Torre dos Clérigos, qualquer coisa dedicada à música erudita/clássica, que assumi o compromisso de pensar/escrever algo sobre o exponencial olfactivo da música e dos seus engenhos. O misto de pó de alcatifa com os pianos acolhedores e livros antigos de aprendizagem das pretas sustenidas e das brancas tonais marcaram pela distinção como nenhuma outra tinha despertado tamanho interesse aromático.

De um fim de tarde a caminho de uma lânguida Sagres até ao momento em que me encontro na escrita desta prosa muitas das vezes provoco-me para entrar em lojas de instrumentos para os cheiras. Em lojas de discos (já são poucas, é certo) para as absorver. Até no «descascar» de um CD já me dei a pensar na coisa.

E inúmeras conclusões têm sido retiradas. Desde os estabelecimentos dedicados ao comércio de música em formato de CD, K7, vídeo ou DVD, entre outros artefactos, também disponibilizam, por si só, a sua quota de individualidade característica. Se a loja já apresentar anos largos temos um aroma cansado entre a biblioteca centenária e a legitimidade de uma colecção luxuosa de discos. Convenhamos que a grandes superfícies comercias não cheiram a, rigorosamente, nada. A não ser que se encontrem geograficamente próximas de um restaurante de junk food…

Experimentem. Eu recomendo. Se calhar já o fizeram. Que isto de supor ser inédito no que quer que seja já, por si só, é bem ridículo, quanto mais andar a cheirar CD, «vinis», lojas de música,…

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