Ao que cheira a música?
Comecemos pelas lojas de instrumentos musicais. «Depende», surgirá nas conclusões tão precipitadas como as suposições. Existem diversos aromas. Entre as lojas de música de centro comercial. As lojas isoladas e com um historial significativo. Existe o cheiro para as lojas mais dirigidas ao hi-tech. Ao sofisticado. À cultura djing. Existe a mais tradicional. Com baterias espampanantes e o aroma entre cave e as válvulas gastas dos amplificadores. O leve aroma a queimado também marcam presença no final do dia. E quem já esteve em oficinas de construção de instrumentos ainda deverá ter ficado mais deslumbrado entre a frescura da madeira e rezingado odor metálico das cordas e pick ups das guitarras eléctricas.
Assim como as garagens. Onde o suor liquidificado se mistura com ruídos madrugadores de guitarras untadas de impaciência técnica. Ali, a música fede. Não cheira. Fede. O ambiente duplamente «queimado» impera, para bem de todos…
E volto a confessar (sim, repetidamente) que foi numa loja próxima da Torre dos Clérigos, qualquer coisa dedicada à música erudita/clássica, que assumi o compromisso de pensar/escrever algo sobre o exponencial olfactivo da música e dos seus engenhos. O misto de pó de alcatifa com os pianos acolhedores e livros antigos de aprendizagem das pretas sustenidas e das brancas tonais marcaram pela distinção como nenhuma outra tinha despertado tamanho interesse aromático.
De um fim de tarde a caminho de uma lânguida Sagres até ao momento em que me encontro na escrita desta prosa muitas das vezes provoco-me para entrar em lojas de instrumentos para os cheiras. Em lojas de discos (já são poucas, é certo) para as absorver. Até no «descascar» de um CD já me dei a pensar na coisa.
E inúmeras conclusões têm sido retiradas. Desde os estabelecimentos dedicados ao comércio de música em formato de CD, K7, vídeo ou DVD, entre outros artefactos, também disponibilizam, por si só, a sua quota de individualidade característica. Se a loja já apresentar anos largos temos um aroma cansado entre a biblioteca centenária e a legitimidade de uma colecção luxuosa de discos. Convenhamos que a grandes superfícies comercias não cheiram a, rigorosamente, nada. A não ser que se encontrem geograficamente próximas de um restaurante de junk food…
Experimentem. Eu recomendo. Se calhar já o fizeram. Que isto de supor ser inédito no que quer que seja já, por si só, é bem ridículo, quanto mais andar a cheirar CD, «vinis», lojas de música,…
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