Duas Coisas Muito Importantes

Na era da imagem. Sem imagens. Só palavras de duplo sentido. Que desenham qualquer coisa...

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Location: Lisboa, Olissipo, Portugal

Friday, January 30, 2009

Girl from the docks!!!...

Imelda May. That`s her name. Gaja de Dublin. Canta tanto que a minha constipação permite-me, não só ouvir o seu myspace, como até batucar em cima da mesa. A mesma constipação que me encharca os olhos deixa-me apontar neste documento Word que a gaja faz-se. Eu gosto.

Doi-me os músculos ali perto da homoplata. E mesmo assim o malhão do «Johnny Got a Boom Boom» faz-me armar em psychobilly de algibeira e agitar os membros superiores. As pernas estão podres para subir 12 degraus mas o filha-da-mãe do pezinho não para de reagir a «Cry for me Baby».

O Jools Hollland já anda, obviamente, em cima disto. Convidou-a para o programa e tal e ainda tem o descaramento de tocar com ela o «Falling In Love With You Again», com aquela profundidade que vem do som da gaita-de-foles tocada em cima de um rochedo. Uma espécie de «Fairytale of New York» (The Pogues trademark) revisitado.

Ajavardo o teclado com restos de lágrimas e descargas nasais mas ainda não consegui ir embora do computador só para ouvir esta canalha. Qual Nina Simone, qual Billie Holliday, qual (outro espirro) caraças. Isto é rockabilly a armar-se às canções pop que a malta canta no Verão já em tronco nu. (Só de pensar é um arrepio…este matacão de corpo tão debilitado…). Diz que a gaja também pode ser a resposta irlandesa à Amy Winehouse. Ora, em jeito de conversa de bar indico à malta, cada um mija com a sua. (isto de estar tão obstruído dá nisto…).

Tem uma pinta do caraças. Não abusa da coisa do billy. Não se parece assim com muita coisa ao mesmo tempo que temos a consciência que já dançamos tretas daquela ou num tasco em Coimbra ou na Caixa Económica Operária, em Lisboa. Se ela passar por cá, e se a porra da constipação se for embora, vamos lá?...

www.myspace.com/imeldamay

Friday, January 23, 2009

Francisco José Viegas…

…não te suporto. É simples. É do coração. Não te suporto. Termino agora «Algumas Distracções», livro que reúne «matéria pessoal» e que «reúne «distracções em relação à “vidinha real”». Defendes que tudo nele inserido pode ser incoerente, ineficaz, impopular e até mesmo injusto. Concordo em absoluto, logo, não te suporto.

É irritante tanta cultura bem esgalhada nas tuas citações. A tua auto-afirmação através dos livros que lês (blargh), já está demodé. O teu anti-esquerdismo militante só me relembra a máxima do Otelo «era mete-los a todos numa praça de toiros»…E por falar em toiros, toca-me a concordância que temos quanto às touradas. O teu despotismo para com o pai da república, o velho Mário Soares, a faca que destrata Jorge Sampaio, o fanfarrão que pintas ao invocares Manuel Alegre. Essa tua distância de Neruda e o cerrar de punhos na hora de bater palmas a Saramago.

Esse teu tripeirismo desinteressado quando lanças um olhar heróico e medroso para o Benfica. Essa tua visão da portugalidade. Esse pensamento pan-lusitano, sendo a língua muito melhor trabalhada quando o sotaque a transforma. O modo como acaricias Geraldo Vandré e pontapeias a moral de Gilberto Gil. O que me irrita que conheças Paulo Francis, Rubem Fonseca, Lúcia Guimarães, Tabajara Ruas, Alfredo Garcia-Roza, João Gilberto Noll, Arnaldo Jabor, entre tantos. E esses tantos resumidos a dois: Nelson Rodrigues e Ruy Castro e todos os outros anjos pornográficos que habitam nas suas cabeças.

Fiquei puto ao perceber que tinhas melhor relação com a Gávea do que eu. Que o Rio de Janeiro é…peanuts…Assim com é pequenino o mundo literário de Machado de Assis,
Henry Miller, Stephen Jay Gold e… James Joyce. Agonia-me o teu à vontade com Dublin. Ou mesmo com Antuérpia, Nova Iorque, Luanda, São Paulo, Baia, Argentina, Suécia, Israel. E aqui, o teu olhar sobre o sionismo. E o judaísmo. E aquela vaca daquela máxima pendurada… «Não perguntes o caminho a quem o conhece, pois de contrário não te poderás perder»…

Francisco não passas de um erudito, que cita literatura numa auto-afirmação social, e lês gajos que misturam José Mourinho com Max Weber. Só por isso e pouco mais, adorava conhecer-te…

O franguinho da D.Ana…

…sabe a história. Tem o paladar apurado de quem ficou muitas tardes agarrado à grelha. Enquanto outros cantavam, bebiam, cochichavam, mal-diziam. O senhor Zé tem essas mãos. Agarradas à grelha, elas guardaram-se de copos cheios e conversas inoportunas, mas queimaram-se com o lume contínuo de outros fogos. Aprumou a arte. É um assador profissional.

Agora o senhor Zé não assa de borla. Recebe pela sua especialização. Veste-se a preceito, num misto entre fato-de-macaco (mecânico style), afia a navalha, esquarteja os bichos já depenados, “espalrama-os” numa grelha própria e deixa-os arder na brasa. O processo é duro como as mãos do senhor Zé. Como o semblante do senhor Zé. Os frangos não se riem. Assim como o senhor Zé. Aquilo é «boa noite», uma resmungadela em voz baixa, uma fagulha que salta e toca a deita-los na travessa de alumínio.

O franguinho que a Dona Ana saca da grelha, depois de o senhor Zé ter esquartejado o animal vem sempre muito bem tostado. Não queimado. Vem seco. Sem partes mal assadas. Sem interiores de ossos sangrentos. Com a pele a estalar. É diferente. Vem no ponto. Eu recordo-me desse frango quase semanalmente. Das sextas-feiras trabalhosas que acabavam por cima de umas caixas de óleo Fula a aproveitar-me do peito do frango indefeso. E mais ainda, ó teoria de viajante, quando regresso a Lisboa. O ritual dura menos de 24 horas. Nesse espaço de certeza que o franguinho da Dona Ana vem espreguiçar-se à mesa. Que o digam amigos que não percebiam porque é que fazia quase 10 quilómetros para o ir buscar. Não percebiam porque é que transportei dúzias de São João da Talha até ao Meco, só para os ter numa noite mais bonitinha. Outros perceberam depois de o provar.

O meu querido camarada Filipe ao telefone: «pá, sabes onde há uma boa churrascaria aqui perto de onde estou a morar agora?». Parque das Nações. «Ó meu amigo, toma o número. Logo à tarde dou-te as coordenadas (era pré-GPS)». Episódio seguinte. Marcelo rumina à mesa ao chupar uma asa. «Bom pá cara…». Um brasileiro, habituadíssimo a “churrasquinho”. A ver se não gosta…não que não gosta…Etc..Etc..

«Alô, Dona Ana. É o Pedro da Loja. Tem meio para as sete e meia?»

Thursday, January 22, 2009

CUM.....

...CARALHO!!! Não me cabe uma palhinha no cu!!! É assim e mainada!!! «Vocês descobriram ali uma praia»!!!! Demorou mas foi!!! Perdão. O relativismo volta em breve.

Tuesday, January 20, 2009

De repente e forte…

…gostamos de café forte. Cerveja forte. Guinness forte. Cidades fortes. Aromas fortes. Vinho forte. Alentejanos fortemente (secos). Dourescos (acidamente) fortes. Sumos fortes. Mamas forte (pequenas ou grandes, mas fortes). Rabos (sinceramente) fortes. Música forte. Discos fortes. Televisão forte. Amigos fortes. Canções fortes. Livros fortes. Rapazes fortes. Ritmos fortes. Frio forte. Calor forte. Cintos fortes. Pessoas frontalmente fortes. Pessoas (fracamente) fortes. Sabores fortes. Cinema forte. Peixe assado forte. Chá forte. Automóveis fortes (e belos. Mais belos que…). Cadeiras fortes. Beijinhos fortes. Miminhos fortemente apertados. Histórias fortes. Tecidos fortes. Calças fortemente (escuras). Sapatos fortes. Lasanhas fortes. Barba forte. Futebol forte. Sacos fortes. Gajas fortes. Móveis fortes. Chocolate (preto) forte. Sites fortes. Mails fortes. Do SLOlivais forte. Videoclips fortes. De piadas fortes. De vidas fracas

Thursday, January 15, 2009

A frieza é…

… das coisas mais saudáveis que o ser humano tem. Eu refiro-me à “novelle frieze”. Uma nova frieza completamente atenta aos novos formatos comunicantes que se começam a estudar por essas universidades fora. O markting tolo e relações públicas de decotes maiores que o cérebro estão, não fora de moda, mas condenados. E a sua sentença final dá-se no momento seguinte em que o que sai da boca nos faz detestar o que levamos radiantemente pelos olhos dentro. Não queremos amizade. Queremos um serviço. A simpatia não sobrevive nos dentes nem em decotes.

A «nouvelle frieze» é uma coisa muito mais sofisticada. Está patente em todos os restaurantes decentes. Todos os botecos consideráveis. E até mesmo no fast food mais gorduroso. Aquele atendimento frio, implacável, em que o sorriso tolo e de ocasião é substituído por uma eficácia inapelável. Primeiro «um boa noite» de bons modos. A pergunta sobre a ementa escolhida. Anota-se o pedido. Um «até já, com licença». No momento seguinte já estamos com uma comida quentinha e razoavelmente saborosa. Depende da casa de pasto. Nos “entretantos” não somos incomodados com nenhuma pergunta parva de ocasião, em que o profissional da mesa pergunta se «está tudo bem?», sabendo diante de mão que aquele repasto foi a pior escolha do cliente. Nada. O que o profissional faz é passar pela mesa. Isso basta. Facilita a comunicação. Mantém a discrição. Ao passar pela mesa, se os copos estiverem vazios, toca a retocar a maquilhagem e dar-lhes mais um vermelhinho para dentro. O profissional mantém-se atento a algum sobressalto na mesa. Algum incómodo do cliente que precisa de mais um bocadinho de molho da casa. O sinal é uma inquietude surda. O profissional, dos bons, assume a falta e rectifica-se.

Esta «nouvelle frieze» não tem rigorosamente nada a ver com má educação ou alteração dos códigos de bons costumes. Estamos perante uma objectividade impar. Quando me dirijo ao Pinguim (à Estrada de Benfica) quero lá que a lésbica detrás do balcão me sorria. Bem sei que os dentes nem bonitos são, porque já tive o cuidado de registar um sorriso para uma morena que lhe resgatava uma Lasanha vegetariana (muito boa por sinal!, a Lasanha). Quero que a lésbica e a sua “partenér” (suspeito que não seja…) me entreguem a comida. Digam-me o preço. Não se metam na minha vida («ah já cá não vinha à muito tempo»). «Aqui tem» basta-me. Dispenso o «até amanhã».

No máximo, a «nouvelle frieze» pode sugerir. Se lhe for pedido tamanho serviço. Era uma terça-feira, 13. Perto da meia noite. Saí do Pavilhão de Portugal e precisava de retocar o meu estômago roliço. Rápido e uma treta qualquer. Essa casa de sandes seria válida. A rechonchudinha do balcão aceitou a minha pergunta («Ainda servem?»). «Até à meia-noite» desviando os lábios ao de leve só para me informar que a minha pergunta era desnecessária. Eu queria mais dela. Queria a sua simpatia vazia. «O que me sugere?». Ela, rechonchuda e batida em fast-food, «eu, pessoalmente, gosto muito de chapata e bla bla bla». «Tá rechonchuda, dá-me lá uma das tuas que és de uma frieza confrangedora que tanto gosto». Não disse. Pensei. Comi. Gostei. Agradeci-lhe. Tudo na maior das friezas porque ambos sabíamos que era um encontro ocasional

Thursday, January 08, 2009

Ah Faduncho…

…não há portuguesinho nenhum que não tenha qualquer coisinha a dizer sobre fado. Ou porque o detesta. Ou porque o odeia. Ou porque o ama. Ou porque não o percebe. Ou porque atribuiu toda e qualquer característica lusitana ao fado. Ou porque amarra-se ao fado para explicar Portugal no geral e Universo em particular. O que é fado. O novo fado. O velho fado. O fado vadio. O fado de antecâmara. O fado dos grandes palcos. O fado do Faia. O fado da Mesa de Frades. O fado do Bacalhau de Molho. O fado fascista e tal.

Todos. Todos sabemos. Façam o teste. Saiam de casa e perguntem à primeira alma com sobrancelhas coladas, mulher de bigode, morena-next-door, puto do grafiti, um velho de boné e crachá de foice e martelo, ou mesmo ao charmoso vestido de preto e gravata roxa que, entre o gay e o metro, passeia o perfume caro pela calçada. Perguntem a qualquer destas almas o que é fado? Ui! Upa upa. É um rol de bestialidades teóricas que, entre o excêntrico e o precário, define o que é o fado. Sim. Qualquer resposta é mais do que válida. É isso que nos torna geniais. Capazes de fazer da nossa história um memorando de conquistas, sem nunca visar, que por exemplo em Moçambique já se fazia comércio com o Pérsico desde o século X. O que é que isso interessa? Fomos nós que chegámos lá, ocupámos e tal e agora aquilo seria da malta e siga a dança.

A história do fado também é feita por aí. Uns uivam que é de Coimbra. Outros que é do Cais do Sodré. Mas nunca originária de negreiros africanos que traziam tons menores nas suas cantigas. Isso nunca. Muito menos se identifica o regresso da corte portuguesa depois do exílio brasileiro. Ou por outros termos, os “avecs” meteram-nos “finos”, instalaram o Carnaval no Rio de Janeiro, e mandaram os tugas para casa, debaixo de um “chorinho” triste. Avançamos com a teoria dos trovadores de outrora que já faziam cantigas de escárnio e maldizer, e aí sim, começava o fado. Se eles tinham escutado mouros e seus prantos, isso não é prova concreta num qualquer tribunal musical. Nos dias que correm, felizmente, depois de muitas horas de psicanálise, já se considera exótico tudo ter começado numa puta. A Severa. Ele há nome mais castiço? Uma puta de nome Severa!!! Final do século XIX. Já a caminho do apocalipse. E logo ali, ainda respirava-se o início dos anos 1900 já o tugas andavam às turras com o que era fado. A Academia mandou vir com o pintor José Malhoa. Então o rapaz pintou o quadro «Fado» invocando uma puta, vinho e guitarra? O fado ainda era tão novinho e já ninguém se entendia quem era o pai. Sendo que com uma mãe puta, ó meus filhos…

No meio deste troca-troca de histórias inacabadas, sobressai a característica fundamental da alma lusa. A generosidade. Essa referência no traço da personalidade Viriata trouxe-me até casa «Fado – Sempre! Ontem, Hoje e Amanhã». Agradeço tão nobre obra. Tão excelso exercício de tentar explicar a história do improvável fado. A estética do livro é belíssima. São 4 discos com tantas coisas boas. Inúmeros itens. Muito texto. Tentativos de explicar a etimologia, numa generosidade explícita a cada página. Muito assunto prostrado no livro/disco. De Amália a Ana Moura. De Beatriz da Conceição, Carlos do Carmo e Carlos Paredes. De Carminho, Deolinda e Ricardo Ribeiro. Tanta história. Tanta alma alfacinha. Tão lisboeta que até doi. Eu, orgulhoso e feliz, condeno-me. Sei lá o que é o fado. Sei é que gosto…

Memórias de África…

…não as tenho. Já por outras altura para aqui se referiu isso mesmo. África? Nunca lá estive. Gostava muito. E as vontades são para se cumprir. Falam-me de cheiros. E daqui deste quarto de freguesia urbana a única coisa a que me cheira é ao resto das rabanadas dos preparativos da noite anterior. O quente dos trópicos, a humidade, as relativas altitudes, o povo selvagem, instintivo, aquele regresso à inocência, é disso que me falam. Apenas o início para descobrir o que para ali vai naquele continente iniciático.

Fala-me gente que me é querida, e sempre me relata com o coração nos olhos. São memórias de Luanda, das Mahotas, da Ilha do Fogo (e das outras todas), de Cape Town, Krueger, e outros tantos depósitos de história que só lhes toco via livro ou ecrã. O imaginário é sempre remexido através de documentos musicais que nos fazem recuperar o que nunca nos pertenceu.

«Memórias de África» apresenta-se como uma edição indispensável. Mas sem merdas. É mesmo. Documento indispensável que muito colmata a visão portuguesa, de nicho, sobre outras culturas em que não se pratica algo entroncado no português. Para alguns, «Memórias de África» teria um valor adicional se fosse uma recolha sobre o Mali, Senegal, Botswana ou mesmo do Chade. Seria mais exótico. Mais desconhecido. Menos patriótico. Mais além-fronteiras. Menos restos de colonizadores. A história, porém, não se pode alterar. Está escrita e o melhor que temos a fazer em relação a ela é conhecê-la para não a repetir. E como dizia Drummond de Andrade, «peço desculpa, mas pelo adiantar da hora me encontro anterior a fronteiras».

Esta novel edição tem como ponto de partida «as grandes músicas dos anos 60,70 e 80. Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe». Este documento, todavia, é um levantamento unilateral, dado que os fonogramas foram recuperados, maioritariamente, dentro de um espectro curto de editoras. As essenciais à época, indicarão alguns. Tem um ou outro erro de revisão, quase como reflexo de um acto africano. Mas arre!, é um dos documentos mais bem trabalhados de sempre da história musical legada à língua portuguesa. Uma compilação soberba. Essencial como instrumento de consulta.

Está bom de ver. Quatro discos que separam 30 anos e 5 países, mas ancorados ao passado português. Sem saudosismo de outras épocas. Apenas como documento histórico, essencial para perceber quem foi Zeca Afonso, por exemplo. Autêntica obra de biblioteca. A história musical de Portugal também se inscreve aqui…