Duas Coisas Muito Importantes

Na era da imagem. Sem imagens. Só palavras de duplo sentido. Que desenham qualquer coisa...

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Location: Lisboa, Olissipo, Portugal

Friday, December 19, 2008

Ser modernos é…

…a única coisa que não podemos evitar. (Salvador) Dali disse-o a alguns alunos. Ou melhor, discípulos. Já que é mesmo de doutrinas que se trata. A formação teológica da FlorCaveira. De onde vêm? Ao que vêm? O que é uma consoada para esta gente que mistura baptistas e evangelistas, ateus e maniqueístas? E, principalmente, o que faz o Rui Reininho no meio de toda esta gente?

Era uma quinta-feira à noite. Como tantas outras, que são frias e interessantes ao chegar ao dia 24 de Dezembro. Nos dias antes, ou melhor, em todo o mês antes, há malta que se junta de semana com motivos para um «jantar de Natal». Mesmo que nunca, e por sacrilégio, se fale do dia 25. O leitmotiv é o que estiver entre um braço caído em perpendicular à mesa e os copos (cheios) disponíveis numa mesa. Não se elabora nada de última ceia. Assim como a FlorCaveira o desconstruiu, ao seu modo, para o retrato do Expresso no sábado último. Tipo..não somos apóstolos, mas temos quem seguir.

Ora, não perdendo o fio da coisa, era uma quinta-feira que rimava com FlorCaveira. Tudo no Maxime. Tudo ao molho e fé no deus deles. Uma malta que se reúne sob a égide de um pastor não declarado. Mas ele está lá. Dá ordens sorrateiras ao baterista. Anuncia o próximo número em palco, qual acto circense, e tem jeito para umas alfinetadas sócio-politicas. O resto do rebanho emana talento musical que até fede ao subirmos a Praça da Alegria. O cabecilha desta malta já vergou os 30`s. Por vezes soa ressabiado. É natural. Está cansado da luta e quer entregar o que não conseguiu erguer. Mas tem discípulos. E muito bons. Samuel Úria é o topo. Procurem ou deixem um primo mais novo vos falar nele daqui a 5 anos.

Os rapazes mais novos dividem-se por inúmeros projectos musicais, ainda que na noite de quinta-feira estivessem todos unidos em torno do repertório da FlorCaveira. Dos vários artistas daquela companhia. Simpáticos, seguidores por natureza. Comentava-se para o lado que noutros tempos não se queria era ser de nada. Era uma comunidade de independentes. Coisa dos 90`s. Actualmente, essa sensação naif de liberdade está entregue ao associativismo declarado. Antes pertencer do que esquecer.

É a nova malta fervilhante da música portuguesa. Faz as delícias da imprensa que busca sempre algo de novo. Mas não só. São modernos. Ouviram coisas antigas mas esborratam a pintura com modernice. Só porque sim e não me parecem muito disponíveis para discussões tolas em torno de influências. Eles resolvem tudo no intervalo do espectáculo no Maxime. Chutam Carlos Paredes para o som ambiente e chamam o Reininho para o palco. Mas o Reininho? Sim. Outra e mais outra vez. O gajo não tem nada a provar. Ele está sempre “lá”. Naquele cantinho pós-modernista. Quem não o percebe, nem percebe o que se passou ontem, e que talvez hoje já não interesse, talvez tenha que ir em busca de dicionários sociais. É um lufa-lufa e nada é de ninguém e tudo é de todos…

Friday, December 05, 2008

Em reacção…

…a uma média acção. Reacção rápida que não há tempo a perder com mofo crítico. O festival SuperBock em Stock não é o supra-sumo da picada. Não é um fenómeno original. Não o foi nem creio que pretendia ser. Não era tudo o que Lisboa precisava. Não era o máximo, mas existiu.

Tudo o que pedimos, enquanto consumidores de música e espectáculos é que haja diversidade, música, arte, variada, rápida, lenta, com tempo, com cores. Tudo o que pedimos é que HAJA alguma coisa. E a partir daí construir, melhorar, rever.

O conceito era bom. É bom. É versátil. Há andamento. Dá vida aquela puta de avenida que se enfeita todos os anos no Natal mas que só é apreciada por turistas, que se instalam na Avenida da Liberdade e os taxistas que os vão transportar. As luzes natalícias de gosto e utilidade questionável ficam ali desamparadas durante quase dois meses. De dia dormem, à noite aprumam-se para uma calçada vazia e carros em marcha rápida.

O festival aproveitou aquela luz, deu-lhe pessoas. Fez mexer edifícios desamparados no Inverno. O Tivoli é uma morte lenta. O São Jorge enche-se de 30 pessoas uma vez por semana para ver cinema croata. O Parque Mayer é um traste de revistas decrépitas. Houve um evento que fez mexer….lá os velhos do Restelo tinham que mandar vir…

Foi caro? 40 euros. Não é fácil. É bom para quem pode. Para quem tem sede de arriscar uma banda que conhece e três que nem sabe muito bem pronunciar o nome. É um festival de descoberta. Vivo. Com visão de melhorar esta cidadezeca que parece que só pode viver naquele mortuário que é a ZDB. Aquele entulho. Desterro social. Esta cidade que dá fado mainstream à sexta-feira. Electro qualquer coisa ao sábado. Musica moçambicana num retiro de artistas de circo ao domingo. Um dia todos dirão que foi muito bom, dinâmico e que é uma pena agora já não haver festival nenhum….