Duas Coisas Muito Importantes

Na era da imagem. Sem imagens. Só palavras de duplo sentido. Que desenham qualquer coisa...

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Location: Lisboa, Olissipo, Portugal

Thursday, December 20, 2007

«O problema do gordo…

…é que se ele beija não penetra e quando penetra não beija». Autor deste paradigma inabalável? Sebastião Rodrigues Maia. Tião em criança. Tim Maia para lá da Barra da Tijuca.

«Fiz uma dieta rigorosa. Cortei álcool, gorduras e açúcar. Em duas semanas perdi 14 dias». E era isto. Tim Maia. Um monte de coisas que agora chegam a livro através da escrita belíssima de Nelson Motta. Tenho ainda na cabeceira um dos meus livros de 2007, «Noites Tropicais», no qual Motta já me tinha feito sacudir o estômago em rizadas durante o Verão. Desta feita o jornalista-escritor-produtor-músico decidiu-se e bem pela elaboração do compêndio (possível) da vida de Tim Maia. Um dos maiores loucos da segunda metade do século XX.

«Não fumo, não cheiro e não bebo, mas às vezes minto um pouquinho». E a imagem? Dentes! Muitos dentes a brilhar de tanto rir! Whisky confundiu-se com água. Ar puro deu lugar a cocaína. Maconha foi amante. Tim Maia chegou a recusar droga, álcool e felacios só por ter medo de andar num “bonde”. Aos 16 anos foi para os EUA. Levou 12 dólares na carteira e um monte de perguntas em português para confrontar o seu desconhecimento acerca da língua inglesa.

«Com os acordes de uma música do Tom Jobim dá para fazer 50», manifestou-se. Não contra nada. Mas a favor de tudo. Tim Maia encorpava nos 140 quilos, gorduras de soul, toxinas de funk, varizes de rock`n`roll. Motown em Copacabana! Esófago do demónio!!! Tudo num só corpo.

«Mais grave! Mais agudo! Mais eco! Mais retorno! Mais tudo», gritava Maia para os técnicos de som. Um exagero a pedir. Proporcional ao talento No livro de Nelson Motta devem passear-se muitas inconfidências, sem fazer um culto estapafúrdio aos que foram. Tim Maia ainda é muita loucura. Mas loucura mesmo. Sem ser rock´n`roll lifestyle. Loucura genuína. Loucura genial. Eu quero viver esta leitura de «Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia». «Estou com gás, vou com pressa para Minas Gerais…»

Wednesday, December 19, 2007

O cosmopolitismo, mais de 50 anos depois...

…de se ter tornado sinónimo de grandes cidades, chegou a Lisboa. Não vale a pena discutir que já existiam provas do facto. Agora sim. É o momento. E qual o sinal divino? Qual a palavra passe para entrar nesse distinto e restrito grupo de cidades de nariz empinado que olham com indiferença para subúrbios? Táxi!!!

Mas não se trata de mais uma charopada sobre taxistas. Apenas é o dever deste pedante escriba reflectir em algo mais do que pensar em nomes para ofender o próximo energúmeno que celebre «Rise up», do Yves la Rock (só este nome!!! Reparem bem: Yves la Rock!!!! Lagares de azeite!!! Betoneiras de óleo!!!)

É pertinente numa primeira fase que este que vos escreve é um fã assumido do termo cosmopolita. Cidadão do mundo. Aquela história do cidadão que deseja ultrapassar as barreiras geopolíticas e não sei quê. Balelas pseudo-sofisticadas, mas que no fundo se tornam confortáveis no cérebro e no passar dos dias.

Ora, salvaguarda feita, resta avançar para o que realmente interessa. Supõe-se que alguns dos leitores (1 e meio) dos lêem esta prosa acrescentarão que muitos sinais de cosmopolitismo já estariam a piscar por esta altura. Claro que sim.

A conversa de que temos muitos espectáculos. Que sabemos receber muito bem. Que cruzamos muito bem com coreanos e suecos. Que Espanha não nos interessa (demasiado blasé!). Que há muita sofisticação desde restaurantes e artes performativas. Que temos a TimeOut. Que constamos no guia Gay Europeu. Enfim, temos lobbys e realidades do nosso lado.

indeléveis sinais de cosmopolitismo em Lisboa. Mas há coisas de rua que nos faltava. E não estou a falar de ver pares de namorados como um paquistanês com uma japonesa. Que também já há. E não me refiro à malta que vai ter que ir para a rua esfumaçar a partir de 1 de Janeiro, à lá Nova Iorque.

Refiro-me ao fenómeno (será?) de se querer um táxi a partir das 03h00 da manhã de sexta ou sábado e não existir um único livre. E mais do que isso. Existem filas nas paragens de táxi!!! Uma coisa super-cosmopolita! Super London!!! Super cheio de gente. Motins de noitadas. Uma coisa...

Pois claro que isso se deve a uma fraca rede de transportes nocturnos, e que não sei quê, e que o governo tem culpa por ter a oposição que tem, e que a oposição poderia ter outro governo e mais não sei que mais.

O que tem acontecido com alguma insistência é esse fenómeno (será mesmo?). E o facto dá-me vontade de levar a mão ao queixo e com o braço pendurado na janela, sorrir festejando estes significantes e signifcados

Thursday, December 13, 2007

Tratado de Xabregas…

…era bom e dava um ar mais português à coisa. Tratado de Lisboa fica uma coisa demasiado cosmopolita. Não há um checo, sueco e alemão que já não tenha vindo a Lisboa ver os Jerónimos, a Torre de Belém, o Chiado, o Adamastor, o Lux e tal. Agora, foi a Xabregas?!?!? Uma zona tão edificante, com tudo o que um português tem direito! Contentores a separar a população da vista para o Tejo, entre outras preciosidades estéticas!

É muito fácil dar um ar “porreiro” a isto tudo. Tudo para os Jerónimos. Caldeirada com peixe e marisco de Sesimbra. Solzinho em Dezembro. A Dulce Pontes aos berros num desafino-não-desafino. E no fim, todos no Elefante Branco. Uma maravilha de cidade!

Esta cidade com características mediterrânicas que tem miúdas giras, pratos baratos e bebedeiras non-stop. Bons hotéis. Mar. Marisco. Táxis baratos. Cerveja a bom preço. Prostituição variada. Serventia como feitio. Ah, e tem monumentos e não sei quê. Tratado de Lisboa. Lá ficamos cravados na história da União Europeia por aquilo que melhor sabemos fazer, sector terciário!!!

O que importa aqui é que não conseguimos atirar o tratado para uma freguesia/vila/cidade com um nome complicado como Maastricht. Ou o Acordo de Shengen. Ou mesmo o Tratado de Nice. Bem sabemos que também houve Paris e Roma, mas esses não têm o pendor fonético de Nice, Shengen e, claro, Maastricht!

Pobres alentejanitos que responderam das mais variadas formas quando confrontados com a pergunta: «Sabe do que se trata o Tratado de Maastricht?». Ao que um deles respondeu: «Mais triste? Olhe, mais triste é quando os filhos batem nos pais!»

Portugal já teve cidadãos muito capazes. Desde as descobertas marítimas a travessias aéreas atlânticas, de prémios Nobel a futebolistas famosos. Mas agora anda estagnado. Com medo. Nem é capaz de inventar uma coisa novinha. Custava muito chamar-se Tratado de Xabregas?!?!? Tratado de Malpica do Tejo? Tratado de A-dos-Cunhados? Tratado de Pirescouxe?!?!?

E o que ganhamos com isto tudo? Perdemos força nas decisões comunitárias. Somos um dos países mais pequenos, como menos população, factor que consta como segunda alínea numa hipotética nova decisão dentro da comunidade. Os estados mais populacionais ficam a ganhar. Onde é que já ouvimos isto?

Ah, mas ganhamos prestígio. Nós não. O Zézinho Sócrates que está já a apontar as baterias para o Parlamento Europeu, que isto de ser primeiro-ministro já deu o que tinha a dar…ter que aturar o Santana e outros Jerónimos da vida…Zé, já há debates na Polónia para saber como se pronuncia Sócrates! Estás no bom caminho! Venha uma Bruxelas fresquinha pó Zé!!!...

Friday, December 07, 2007

Fim da RTP Memória…

…o canal temático da televisão do estado não é mais um direito a quem paga um pacote precário para visualizar uns canais disponibilizados por serviços como a TVCabo. A RTP Memória retirou o “sufixo” «Memória» e passou, definitivamente, a ser transmitida como RTP1.

Luís Pereira de Sousa, Júlio Isidro, Margarida Mercês, Maria José Valério, Artur Silva, António Calvário, Mário Zambujal, Simone de Oliveira e tantos outros voltam a ser figuras aclamadas na televisão estatal. A própria RTP está a desenvolver mecanismos de voltar a transmitir em sinal “bicolor”, ou seja, preto e branco.

A acção estende-se pela dedicação e sinergias com outros veículos estatais como a RDP. É fantástico o bola-cá-bola-lá que as emissões da RTP vão fazendo com os estúdios da Antena 1 e uma outra Antena…parece que é 3, qualquer coisa para uma juventude perdida.

Jovens como Carlos Paulo e João Baião são convidados a debitar ranho e baba pelos tempos em que, ainda imberbes, faziam juras de amor aos cartazes que eternizavam fenómenos como Amália e Simone de Oliveira.

Depois é junta-los todos e escutar coisas tão intemporais como «Mocidade», do eterno Calvário, ou mesmo a «Desfolhada», da Simone de Oliveira. Francisco José não apareceu mas enviou um telegrama…

Há, residualmente, espaço para umas crianças cometerem a ousadia de revisitar esses clássicos através de versões infelizes, mas nobres, que é o que se quer. Isto tudo, misturado com uma Orquestra que toca o Hino Nacional com toda a pujança que no tempo da outra Senhora, haveria de aplaudir sentado, não fosse a cadeira dar de si antes do tempo…

Na RTP1, ex-RTP Memória, todos os dias é dia de saudade. RTP Saudade e de preferência com muito choro e lágrimas de árvores que morrem de pé. É o mesmo País que ainda espera voltar a ver o fecho da emissão com o Hino Nacional tendo por imagem de fundo a Mocidade Portuguesa