Duas Coisas Muito Importantes

Na era da imagem. Sem imagens. Só palavras de duplo sentido. Que desenham qualquer coisa...

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Location: Lisboa, Olissipo, Portugal

Tuesday, April 24, 2007

O pimba argumenta…

…e ergue-se de mim todo o misto de voyeurismo, fait-divers e não-notícia. Voyeurismo porque me meto na vida alheia através da imprensa cor-de-rosa («noblézoblige»). Fait-divers porque preciso de uma cena light. Não-notícia vou queimar tempo a falar/escrever/pensar sobre algo menor do que qualquer coisa morta. Gostaria de fazer deste momento um acto de celebração. Materialização do acefalismo que constitui condição sine qua non para perceber a cultura pimba.

O piece de resistance de toda a ideologia pimba foi escancarado nas últimas semanas em páginas de imprensa cor-de-rosa. Mónica Sintra apresentou-se aos amassos públicos com um (hipotético) desconhecido. Ora, esse cavalheiro espadaúdo por quem a roda-bombeiros da serra de Sintra se apaixonou é tão somente o heróico retrógada mais visível do assassinato de Alcino Monteiro. Mário Machado de seu nome. Corria a década de 90 e os pretos metiam medo a estes racistas com irmãs mais novas prestes a descobrir os prazeres da carne com o vizinho angolano bem abastado a nível físico…

O estóico Mário Machado voltou à ribalta por vários motivos. Ora com armas ilegais, ora a sacudir o cotovelo para saudar um austríaco que governou a Alemanha, ora por ser demasiado imperdível não aproveitar (e divulgar) a diarreia de pérolas politico-sociais que este jovem obstinado descarrega de tempos a tempos. O Márocas agora é capa da TV Mais porque caiu nos braços ternurentos do engasgue cerebral que comanda a boca da Mónica Sintra. O nosso Márocas apaixonou-se pela Moniquinha e a verborreia intelectual ganhou espaço nas páginas dessa imprensa vazia que tantos lares alimenta.

Feitas as contas, a Mónica Sintra acaba de legitimar com um único argumento de peso todo o movimento pimba ao envolver-se com alguém do seu nível. O pimba agora acasala com a extrema-direita. Perfeito.

O pimba é azeiteiro como o conselho de Le Pen para evitar que as mulheres engravidem («Masturbem-se!»). O pimba revela dificuldades criativas. É básico. É repetitivo. Inconsequente. De esforço menor. O pimba não descola de temáticas pró-machistas em que as mulheres são umas tontas enganadas e os homens querem é pimba! «Afinal havia outra mas gosto de levar no focinho, se não te incomodares muito, amor», gritam elas.

Pimba é tudo isso. Rejeitar o desconhecido apostando em fórmulas pré-concebidas e testadas em povos sub-desenvolvidos. Da América Latina ao redneck do Texas. Do Michael Bolton à Paulina Rubio. Do David Bisbal à Celine Dion. Dos 40 anos de carreira do Marco Paulo sem nunca ter editado uma merda de único inéditozinho que seja ao espalhanço da Jennifer Lopez nesta última fase (mas isso seria um outro post).

A Móniquinha quer isto tudo e muito mais. Quer personificar junto do Márocas todo este paradigma. Quer eterniza-lo e juntar-se ao PNR numa marcha contra as cores das t-shirts da Zara («demasiado pretas!!!»). Junto do Márocas, a Moniquinha sente-se completa. Tem um homem ainda mais estúpido do que ela. Tem um homem doido com aquelas tatuagens todas que lhe dão tanta tesão com um cavalo assanhado lhe daria. A Móniquinha quer fazer uma digressão com os Ódio e deleitar-se em sessões de chapadaria com um açaime naquela boca do inferno que tanta merda cantarola há tempo a mais. A Móniquinha é a primeira-dama da extrema-direita e isso enternece-me. A Móniquinha é um calhau feliz e eu amo-a com toda a violência que posso imaginar…

Thursday, April 12, 2007

Misogenia? Não obrigado, só…

…porque eles querem. Então vamos lá a isto. O Público ao domingo publica, em conjunto com o jornal, uma revista. De seu nome, Pública. Há canais que nos chegam a «casa dos ricos» (pessoal com TV Cabo) e que transmitem uma série intitulada «Dr. House». Coisa de culto, assumem alguns. Ora, feitas as apresentações toca a junta-las no mesmo texto.

A Pública apresentou uma capa no passado dia 08 de Abril em que rebentava com um paradigma muito engraçado que a sociedade modernaça, em conjunto com o «Sexo e a Cidade», tem vindo a celebrar. O paradigma do metrossexual. Nada contra. Nada a favor.

«House vai acabar com os metrossexuais?» era a pergunta de capa. E lá estava o actor Hugh Lurie com aquele olhar a franzir uma testa com rugas, uma barba mal semeada e um cabelo pouco aprumado. E se a proposta da revista era obrigar a leitura de tal observação sociológica, pois que foi conseguida aqui em casa.

O texto ia mais longe e indicava mesmo que o Dr. House (a sua figura, portanto) tinha destronado Beckham. Um tipo com uns abdominais em forma de cumes prazerosos e um palmo de cara que consegue fazer esquecer uma tirada pós-coito como «ligas a televisão para vermos o Manchester com a Roma?». O rabugento do House é mais sexy que isso tudo, diz o texto…

Em traços gerais, o artigo assinado por Ana Gomes Ferreira (bem esgalhado, acrescente-se) indicava que o sanguinário Dr. House acabara de matar com a estafante moda metrossexual. Depois da leitura do artigo acredita-se que as mulheres já não terão motivos para mais uma enxaqueca na manicure ao aperceberem-se que ainda têm quatro homens antes delas na fila para o atendimento.

As despesas lá de casa também vão suavizar. Cremes e tonificadores vão estar fora de moda dentro de dias. A depilação volta a ser do género feminino. Os sovacos poderão voltar a deixar um leve aroma no ar e os pentes voltam para a cesta da parceira. A mulher volta a ser feminina e o homem volta a ser feio. Acabou! Está resolvido.

Estamos cansados de não nos reconhecermos nas diferenças. De não as saborear. De não as complementar. Numa sociedade em que se cultiva o corpo perfeito («mente débil em corpo estéril»), qual nazismo aceitável de seres perfeitos, a metrossexualidade levada ao extremo (pré-bicha) é tão aberrante quanto o Michael Jackson querer ser branco. Oba, o cérebro voltou a ser motivo de atracção para o sexo oposto.

Viva o pessoal diferente! Viva o pessoal sem penteado pré-definido! Viva o pessoal higiénico! Viva o banho diário! Viva a estria! Viva as mamas assim-assim! Viva as barriguinhas mediterrâneas! Viva o ventre liso! Viva tudo o que é biforcado! Viva o clássico revisto! Viva o pessoal com comportamentos desviantes! Viva a bichice íntegra! Viva duas coisas diferentes! E viva a rapaziada imperfeita…