Duas Coisas Muito Importantes

Na era da imagem. Sem imagens. Só palavras de duplo sentido. Que desenham qualquer coisa...

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Location: Lisboa, Olissipo, Portugal

Wednesday, February 28, 2007

Hang the DJ…

…porque esgalhada fica melhor. Ali na nossa frente. Com pessoas. Com enganos. Com virtuosismo ao serviço do colectivo. Porque a música tocada, suada, debitada pelos amps fica tão mais bonita quando se prepara para aumentar os orçamentos dos otorrinolaringologistas.

A palavra de ordem do jovem Steven Patrick Morrissey, no ido ano de 1987, volta a fazer todo o sentido quando nos despedimos de Londres, quatro noites e dez bandas depois da chegada quentinha junto de entes queridos que nos esperavam para os lados de Chelsea, e os seus maravilhosos English Breakfeast`s!

Mesmo que bandas como New Young Pony Club ou Cansei de Ser Sexy não passem de passadismos kitschs a atrever-se ao mau gosto e a um hype completamente descartável, ou uns Klaxons a refugiarem-se em sequenciadores e programações várias – ainda assim um «movimento» de respeito, são bandas como os Sunshine Underground nos fazem saltar de uma timidez de turista numa sala quentinha como Hammersmith Palais (sala que «diz que» vai fechar...). Os Sunshine Underground são a festa que os Happy Mondays tentaram eternizar e que os The Rapture encolheram para um mundo descartável do mais-parecer-do-que-ser. Os Sunshine Underground apresentam-se como uns bifes que tresandam a Albufeira. Não são bonitos (elogio maior!). Melhor, não têem pinta nenhuma! Usam punk-funk como uma loira londrina usa baton. E depois de alguns minutos de folia, o baton esborrata a cara da pálida nativa assim como a banda vira a sala do avesso. Viva, a música sobrevive a tudo, como comprovou a folia final de todas as bandas em cima do palco a prolongarem a soberba versão dos Klaxons a «Not Over Yet» (Grace).

E os Sunshine Underground fazem mais sentido ainda na noite seguinte, em plena Brixton Academy. Mesmo quando a banda encontra-se fora do cartaz da noite, ainda resistem na memória pela larga qualidade com que ultrapassam a miséria cançonetista de uns Mumm-Ra, uns The Cramps envergonhados pelos The Horrors e os seus balões tolos, uns The View que nunca ouviram um disco feito para lá de Londres, e uma banda com um grande NADA, como os The Automatic. Não fosse a algazarra de dois casais endiabrados entre o libido e o xungoso repasto carnal mesmo na fila da frente, e a noite dentro da Brixton teria sido mais bem passada a contemplar a refinada arquitectura.

Já em jeito de ressaca de qualidade, apenas saudando a pertinência socio-musical de apanhar um punhado de bandas que amanhã não passa de nomes perdidos em bilhetes antigos, refugiamo-nos numa guitarra portuguesa tocada por um pijama de padrão escocês numa manhã a pedir água retemperadora de mais uma noite atrevida.

Última noite, último fôlego musical. Wembley Arena. Já a cavar bem fundo, muito perto do petróleo desconhecido, os Black Rebel Motorcycle Club clamam por um novo emprego. Miserável prestação. «E agora, man?», pergunta-se ao parceiro de viagem. E agora? Entretenimento puro. The Killers em muito bom estado. Recomendáveis numa escala de 9 em 10. Confetis, um palco transformado em saloon, americanice sem recair no labreguismo tonto. Mais Bruce Springteen do que Redneck. Barriguinha cheia de guitarras, baixos, pianos, sintetizadores, baterias (mas que baterista!!!!), e vozes bem metidas. Steven, continuas a fazer sentido «Hang the DJ, Because the music that they constantly play, IT SAYS NOTHING TO ME ABOUT MY LIFE»!!!!

Wednesday, February 21, 2007

Guernica Havoc: relato possível de uma distância quente

Escape fácil e previsível esse de rebuscar o som do vinil. Uma guitarra a avisar do fundo do túnel do «Clockwork Orange», quando Malcolm McDowell (Alex) nos assalta como que um petardo que há-de ter como destino provável os tímpanos. 01:32; canal auditivo deteriorado. «Shoot your Superstars», parece-me uma frase a dois tempos. Um (o primeiro portanto), bom encontro iconoclasta. Dois (o segundo portanto), já alguém o disse e não me lembro quem. A guitarra adquire tonalidade e sente-se limpidez. Há um baixinho que se encosta no bombo como um soldado nazi em parada filmada por Riefenstahl. Há um teclado gótico a caminho dos My Dying Bride mas todos nus a correr numa praia colorida.

Outro interlúdio. Irrita-me o empecilho do pseudo-vinil. O piano é solto, qual Eunadi em desinteresse cinemático.

Boas vozes nos primeiros segundos do quarto andamento. Os Muse a cavalgar desde o castelo alaranjado de Silves até à secura de Portimão. O vocalista empunha uma espada enquanto canta de nuca descaída sobre as costas. Para o não-refrão os músicos abraçam-se. A porra dos Muse ainda cavalgam que se fartam. Boas vozes a meio do tema. Muito boas vozes. Bem colocadas. Alguém as espetou bem na saborosa repetição da bateria. Os Faith no More ainda não acabaram, dizem-nos em sussurros gritados.

Outro interlúdio. O vinil computorizado soa a tudo menos a qualquer coisa boa. Ainda por cima esconde um pedaço de boa música.

Sexto capítulo. «Ah, isto é para malta que gosta dos Tool, também». Este «também» faz toda a diferença, acrescentaram os OceanSize. Há uma espessura de graves que segura a qualidade do delay guitarreiro. Um cravo é entregue pela voz. Zavala, Rodriguez, Cedric e/ou Omar não são nomes estranhos ao círculo. Impressionante vontade de não criar refrões.

O piano torna-se fundamental na sétima partitura. Trágico e esquizofrénico. Quase autista a um canto a fazer a sua festa barroca numa fumarenta sala de ensaio. Quero aquele piano. Não quero aquele toque de bateria por volta dos 02:30. É de um concurso de uma Câmara Municipal qualquer. Também não quero aquele telefonema encenado. Fake and been there, done that. Mas quero aquele piano em evidência. Quero todas as vozes do fim proto-apoteótico.

Nona sinfonia. A Perfect Circle rapinam os Mr.Bungle. Estamos felizes e damos as mãos em círculos quadrados. Vozes exemplarmente bem desenhadas. Encavam-nos e quase que soam de São Francisco ou outra coisa qualquer para lá de Sagres.

Guernica Havoc editam o EP «Foxtrot of them marionettes» Março de 2007.

www.myspace.com/guernicahavocband

Thursday, February 15, 2007

Versículo de hoje…

…«O rancor é cruel e a fúria é destruidora, mas quem consegue suportar a inveja?» (Provérbios 27:4, escrito por Salomão). Ora, posto isto, as linhas seguintes são apenas atalhos ou nadas de dissertação em torno daqueles impactos que certos indvíduos causam em nós e que, humildemente, guardamos na gaveta do «resolver-depois».

Cruel e tal e destruição coiso e nice, mas o problema é a inveja. Há artistas que exorcizam os seus rancores em composições poeticamente cruéis. Habilmente, conduzem a sua fúria por canais que levam a destruição de cânones, de segmentos, de protótipos. E fazem-no habilmente. O resultado é a inveja de outros parasitas menores que se acomodam a status e formatações unívocas.

Problema principal. Lidar com esses artistas. Pretensão: Palavra que saltita na mente como um «No Ar» das cabines dos animadores das rádios locais. Pretensão, que saudavelmente venero e apoio, quando seres se apropriam da dita cuja (a pretensão, portanto) para querer «algo mais». Caso prático, o nosso Mourinho.

Não é do rapaz da bola que falo. É do Reznor mesmo. O Trent dos NIN. Uma peça de colecção. Zangado com fórmulas. Arruinado pela sua auto-destruição mental. Uma sensibilidade única que o corrói diariamente. Lembrou-se dos Human League, do Gary Numan, e de um heavy metal rezingão para soltar as suas letras «quase-furiosas» por cima dessa mescla sonora. E refiro «quase-furiosas» porque o rapaz, por muito que tente, acaba por repetir-se na temática demasiadas vezes. E o que era furioso passou a ser um arfar de velho decrépito.

Porém, há um porém. O homem tem um resto. É um tímido com um resto enorme. Um resto de qualidade sonora. De dedicação. De exigência. De determinação. E é um exemplo como artista. Mas também falha. Falha quando se repete nas temáticas. Quando a máquina de palco falha e as luzes vão-se abaixo. Apetece-lhe sussurrar ao ouvido «pá, és humano». E no caso, tem uma cagança superior à qualidade. Factor que ainda estou para resolver se é favorável ou de lamentar. Portanto, vai para a gaveta do «resolver-depois». Pá, fartei-me do gajo, confesso. Três dias a atura-lo e não lhe saquei um rasgo genial que eu tanto buscava. É um gajo a ter em atenção, mas nunca genial. Uma genialidade por mim visível. Não o invejo, portanto.

E por entre a semântica de desígnios como a crueldade, a destruição e a inveja surgiu-me a voz de outro profeta, Ney Matogrosso, no caso. «As pessoas tímidas são muito perigosas», confessou o cantor numa entrevista a Carlos Vaz Marques (TSF), que juntamente com outros bons pedaços transcritos da oralidade para a prosa apresentam-se de forma equilibrada no livro «MPB.pt». Tímidos e perigosos…gostamos ou bazamos?

P.S.: Porém....é genial na programação do novo álbum...sigam as pistas....

Tuesday, February 06, 2007

Londres, sempre Londres…

…eu sei, Lisboa. Eu sei os ciúmes que te assolam quando menciono Londres no mais corriqueiro contexto. Eu sei que não me perdoas. Que tendes a torcer o pescoço, de forma regrada, mas a torcer num movimento de repulsa. Também sabes que para mim serás sempre a “menina e moça”, como cantaram (cantam!) os nossos fadistas. A mágica. Não te rales por elogiar outras. Para ti recanto Lenine – “Só você, Hoje elejo e elogio só você, Só você, Que nem você não há nem quem nem quê.”

O que acontece com Londres nem chega a ser traição. Nem é, propriamente, o esbugalhar os olhos com uma incauta que nos rasga os olhos numa noite turva. Nem se trata de saborear uma capa de uma qualquer evasiva revista masculina. Imagina que nem chega a piropo. Tu sabes quem somos.

Só que Londres potencializa o ser humano. Readapta-o. Apresenta a mestiçagem. As possibilidades. A descontracção. O saber estar. A desordem social. O respeito à diferença. O barulho. O receber sem perguntar de onde vem. Mais, é uma cidade que se respeita e torna-se arrogante, características que muito aprecio àqueles que não têm medo de se assumir como únicos. Mas adiante, que não estamos aqui para um manifesto romântico.

Londres deu-me mais duas coisas. Uma igreja com uma banda. St. John`s, na Smith Square. Ali quem desce da Rotunda do Relógio pó tasco do Mourinho. Deu-me essa capela com uma prova de vinhos nas antigas catacumbas. Nasceu em 1728 e foi restaurada depois da II Guerra Mundial. Vende o panfleto promocional deste estabelecimento no coração de Westminster que a acústica é soberba.

Ora…a acústica. E Londres espetou-me a segunda “coisa” nas costas. Uma banda dentro da igreja. Os Arcade Fire no caso. «Neon Bible», o novo álbum. Muito interessante, por sinal. Mais Bruce Springsteen, menos Prefab Sprout e o som de Phill Spector, é por aí. E que juntando ao disco anterior, resulta num grande, grande concerto. Aliás, sabendo eles (a banda) o que representa Joe Strummer aqui para este grotesco ser, lembraram-se de abrir o espectáculo, mesmo no centro da igrejazinha, mesminho ali no centrinho, em formato acústico, lembraram-se de tocar, dizia eu, o estuporzinho do «Guns of Brixton» daquela bandeca medíocre que só meia-dúzia de inúteis é que se dá ao trabalho de menosprezar o talento. Os The Clash, portanto.

Resumindo”, pensei eu. “Estou em Londres, cidade que odeio. A ouvir uma música horrenda num lugar particularmente desprezível. A banda é sofrível…”. Os jornalistas a tirar notas e eu a escrever uma mensagem a Lisboa. “Estupenda, não se passa nada aqui. Estou cheio de saudades tuas. Ligo-te do hotel”…

P.S.: Londres. Ainda tu. Não é que a selecção portuguesa acaba de bater o Brasil por 2-0, num jogo que decorreu em Londres?! E aqueles comentadores brasileiros da TV Record que esfacelam tanto o nosso “tchimi”…para a próxima, "irmãos", para a próxima...